Eis uma excelente lição, simples e didáctica, sobre as singularidades da nossa relação com as imagens:
> em cima, o cartaz italiano de Shame, de Steve McQueen, centrado na infinita tristeza do corpo de Michael Fassbender;
> em baixo, outro cartaz do mesmo filme, francês, feito a partir da mesma fotografia, retocada de modo diferente, agora reenquadrada para o gesto da mão da personagem.
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Não, não se trata de escolher uma versão "contra" a outra, nem de discutir a maior ou menor adequação de cada uma delas ao filme — afinal de contas, estamos perante dois cartazes igualmente brilhantes, lendo de modo diverso um mesmo objecto cinematográfico (o primeiro mais "humano", o segundo mais "simbólico"). Trata-se, acima de tudo, de lembrar que a significação das imagens é um processo contínuo, potencialmente infinito (como a análise psicanalítica).
E de acrescentar também que Shame, um dos grandes acontecimentos do mais recente cinema europeu, que valeu o prémio da melhor interpretação masculina a Michael Fassbender, em Veneza, continua sem notícias de estreia... em Portugal.