* Em Portugal, a visão social do jornalismo passou a estar dominada pela permanente especulação histérica em torno da dicotomia "verdade/mentira".
* Escusado será dizer que se espera (e deseja) que as notícias não sejam invenções mais ou menos delirantes... Em todo o caso, o conceito de verdade é escasso para problematizar a vocação e a prática das intervenções jornalísticas. Desde logo, porque a história da humanidade — e das suas formas de pensar — nos ensina que não há verdades "absolutas" que nos obriguem a desistir de pensar, de continuar a pensar. Depois, porque o jornalismo é um aparato de linguagens que importa discutir em todas as suas diferenças específicas. Fiquemo-nos por um exemplo básico, mas elucidativo: uma coisa é noticiar a eliminação do Benfica da Taça de Portugal dizendo que os "encarnados fizeram um mau jogo"; outra é construir a mesma notícia a partir do facto de o Marítimo ter conseguido "uma grande exibição" (o facto noticiado é o mesmo, os sistemas de significações que cada notícia coloca em jogo são fundamentalmente diferentes entre si).
* Que haja um "estripador" que "só fala por dinheiro" é, provavelmente, um tema central na nossa abalada existência passada, presente e futura, talvez mesmo capaz de decidir a sorte do euro e do nosso sofredor continente... Quem sabe? Resta perguntar o que significa fazer um jornalismo que consagra essa mesma personagem (cujo filho tem por missão "cobrar entrevistas"), ao mesmo tempo que secundariza ou ignora uma avalanche de temas também inequivocamente contemporâneos. Fiquemo-nos por um exemplo, nem sequer dos mais candentes: os Prémios do Cinema Europeu do passado dia 3 de Dezembro não tiveram, nem de longe nem de perto, o mesmo destaque que este mediático "estripador" — eis um dado objectivo, tragicamente objectivo.