sexta-feira, dezembro 23, 2011

Por que deve a Europa investir na cultura?


O que fez dos valores da vida ocidental uma realidade com (salvo excepções, claro) expressão mundial? O que fez do inglês a língua universal? O que levou às gentes de todo o mundo o fato, as gravatas, os vestidos, as sapatilhas e os sapatos que caracterizam o quotidiando de gentes (uma vez mais com excepções, naturalmente) pelo mundo fora? O que faz com que se possa escutar alguém a assobiar canções como Yesterday dos Beatles, uma Ode à Alegria de Beethoven ou Dancing Queen dos Abba tanto na Astrália como nas ilhas Galápagos? Porque comemos de garfo e faca em quase todo o mundo? Como chegaram as pizzas ao Oriente? A resposta é simples: séculos de uma capacidade de exportação da cultura made in Europa.

A coisa começou cedo, com os pensadores gregos, o helenismo abraçado pelos romanos garantindo expressão maior a uma série de ideias e valores em construção, o cristianismo mais tarde agregando todo um conjunto de realidades (tapando os olhos a outras, é verdade) a expansão marítima levando-as aos cinco continentes. Literatura, música, artes plásticas e performativas revelavam o que a “velha” europa tinha a dizer ao mundo. E assim se definiam paradigmas que tanto traduziam uma ideia de modernidade como eram sinais de poder. No século XX, a era da comunicação global aprofundou mais ainda esta projeção pelos media, pelo cinema, pela globalização dos fenómenos da cultura pop.

Num tempo em que outras vozes (e poderes) despertam noutras latitudes e em que a Europa vive uma profunda crise económica o que nos pode ainda projectar como valor seguro de toda uma realidade de que não queremos abdicar (e no fim lá vamos chegar a uma ideia de manutenção de poder e zelo por importantes valores conquistados)? A cultura. Daí toda a razão e urgência do plano que a UE agora propõe. O maior plano de sempre de apoio à cultura entre os 27 países. Que olha a todas as formas de expressão, da criação à divulgação. É um projecto urgente, útil e capaz de comunicar o que somos, o que queremos ser, o que queremos manter, o que podemos fazer... Políticos de todos os países terão ainda que aprovar o programa. Gente por vezes mais dada a aparecer em eventos culturais que a viver a cultura, muitos destes políticos de carreira são mais sensíveis aos números imediatos que às consequências dos investimentos. Que os assessores, consultores e outros (igualmente bem pagos) lhes saibam comunicar quão importante a cultura pode ser para firmar uma identidade e a pujança de uma presença. Da economia à segurança, todos beneficiamos depois, se tanto nós (europeus) como os outros, soubermos afinal quem somos, o que queremos e podemos fazer.