Não vi tantos concertos quanto o que gostaria, e falhei mesmo alguns dos que moravam na minha carteira de imperdíveis (Murcof no Maria Matos ou novo encontro com James Blake no Tivoli). Mesmo assim o cartaz dos melhores momentos de palco vividos em 2011 soma dez instantes inesquecíveis (cinco na área da clássica mais cinco no pop/rock e periferias). A estes juntaria mais dois, todavia não exactamente “live” mas igualmente marcantes. Trata-se das transmissões, em HD, a partir do Met, das óperas Nixon In China de John Adams e Satyagraha, de Philip Glass, que nos deram dois dos episódios de excelência que escutámos em 2011.
Clássica
Michael Tilson Thomas / San Francisco Symphony
Mahler “Sinfonia Nº 2”
Coliseu dos Recreios (Lisboa)
Uma interpretação de excelência para uma das obras maiores de Mahler e da própria história da música sinfónica. Num tempo de sombras e dúvidas, o optimismo que brota desta obra de Mahler fechou em glória a temporada 2010/11 da Gulbenkian.
Peter Eötvös / Orq. + Coro Gulbenkian
Stockhausen “Momente”
Gr. Auditório Gulbenkian (Lisboa)
Foi a primeira vez que Momente se ouviu (em interpretação ao vivo) no século XXI. Contando com Eötvös e Pedro Amaral, dois antigos colaboradores de Stockhausen, a garantia de que a sua visão estaria em cena era certa. Inesquecível.
Paul Hillier / Remix Ensemble + Coro da Casa da Música
Arvo Pärt “Passio”
Gr. Auditório Gulbenkian (Lisboa)
Uma das obras maiores do chamado minimalismo sagrado, numa interpretação dirigida por um aclamado divulgador da música vocal contemporânea. Nas periferias do silêncio, uma interpretação notável para uma obra de profunda carga emocional. A noite ficou na história de 2011.
Simon Rattle / Berliner Philharmoniker
Mahler “Sinfonia nº 4”
Philharmionie (Berlim)
Um grande acontecimento. Contando com a voz de Christine Schaffer no quarto andamento, uma Sinfonia Nº 4 de Mahler com os jogos de contrastes tão bem demarcados, em companhia de uma obra de Stravinsky a completar um belo programa.
Gustavo Dudamel / Los Angeles Philharmonic
Mahler “Sinfonia Nº 9”
Adams “Slominsky’s Earbox” + Bernstein “Sinfonia Nº 1” + Beethoven “Sinfonia Nº 7”
Gr. Auditório Gulbenkian (Lisboa)
Um reencontro com Gustavo Dudamel, desta feita em duas noites consecutivas e com a orquestra norte-americana que agora o tem como director. Pose diferente da que conhecíamos do maestro de orquestras juvenis, mas a mesma versatilidade, tão profundo e intenso no Mahler quanto capaz de traduzir a inquietude da vida presente num Adams. Juntando um Bernstein digno de um herdeiro e um Beethoven que sublinha mais ainda essa rara capacidade de cruzar tempos e linguagens.
Pop/rock
Sufjan Stevens
Coliseu dos Recreios (Lisboa)
Todo um mundo de contrastes num momento apenas e num único palco. Com a música do seu mais recente (e superlativo) The Age of Adz como medula do concerto, Sufjan Stevens mostrou porque é um dos maiores visionários da música do nosso tempo.
James Blake
Optimus Alive (Algés)
Foi a “figura” do ano no plano da música. Restava a dúvida sobre se as composições, de carácter tão íntimo e feitas de acontecimentos discretos, suportariam o desafio do palco, mais ainda num ambiente de festival. A resposta foi um claríssimo: “sim”
Patrick Wolf
Optimus Alive (Algés)
É um dos grandes criadores de canções pop do nosso tempo. Quando, meses depois, nos visitou em concerto em nome próprio, o cansaço de uma longa digressão já se fazia notar (e o baterista que o acompanhava não ajudou muito). Mas em palco festivaleiro a noite saiu-lhe bem. Muito bem, mesmo.
The Gift
Bowery Ballroom (Nova Iorque)
A solidez de uma vivência de palco talhada após anos de intensa actividade fez dos Gift uma banda segura e firme em cena. Mostraram-no num concerto que se revelou decisivo num passo mais no aprofundar de uma relação com os EUA e Canadá onde tocaram várias datas este ano.
Panda Bear
Casa da Música (Porto)
Ao lado de Sonic Boom (o seu colaborador no mais recente álbum), correram Tomboy de fio a pavio, o amplo espaço da sala principal da Casa da Música servindo para conferir àquela música uma incrível sensação de corpo. Como que se o imaterial se materializasse por alguns instantes.