segunda-feira, dezembro 05, 2011

Mitologia grega, versão 11.11


Roger Ebert, o crítico do Chicago Sun-Times, assinou a frase que mais bem define o que é Imortais, o novo filme de Tarsem Singh, ao descrevê-lo como o “visualmente mais belo dos filmes horríveis que alguma vez veremos”. E de facto assim é. O autor de The Fall teve desta vez em mãos uma pequena salada russa de mitologia grega, diluindo o seu olhar plasticamente elaborado e cativante numa narrativa com a espessura de uma daquelas fatias de fiambre que de tão finas deixam ver o que se passa do outro lado.

O problema não reside certamente na matéria prima, tantas vezes que figuras mitológicas como Teseu (mais o Minotauro que derrota) ou os Titãs conheceram interessantes abordagens nas mais diferentes formas de expressão, da pintura à literatura e por aí adiante. O carácter plasticamente garrido das visões de Tasem Singh seria também, à partida, outro dos possíveis valores certos do filme, tanto que a sequência com as quatro figuras do oráculo na mina de sal ou os vários planos no Olimpo (que por vezes quase parecem coisa criada pelo tom barroco da dupla de fotógrafos Pierre et Giles) dão conta de um potencial que acabou na prateleira na hora de ditar prioridades. O que falha (redondamente) em Imortais é, por um lado, a banalização dos valores narrativos da herança grega convocada, reduzido os conflitos a uma lógica de bons contra maus ao jeito de um jogo de computador (dos mais básicos), as personagens mal existindo além dos factos que têm de levar a cena, o tutano da coisa gastando-se em infindáveis cenas de corte e facada, mortes e golpes a torto e a direito, reduzindo até os músculos a bifes.

O realizador terá descrito o filme como um encontro de Caravaggio com Fight Club, mas nem aqui mora o mistério que o chiaroscuro que caracteriza o olhar do pintor guardava junto às suas figuras e lugares, nem a pulsão verdadeiramente visceral do filme de David Fincher. Falou ainda de um Baz Luhrman a fazer Romeo + Juliet no México, mas aqui nem encontramos o grafismo pop (nem se fala na relação com música) ou a dimensão trágica do filme que antecedeu Moulin Rouge na obra do realizador australiano e, de México, não há ali nem travo de tequila. E dá pena ver actores como, sobretudo, John Hurt, com tão pouco para fazer...

Ah, e é em 3D (como se a sua simples menção adicionasse dimensão a algo na realidade tão... unidimensional).