segunda-feira, dezembro 05, 2011

Em meados do século XIX

Regressou recentemente às livrarias, em edição pela Texto, o livro D. Pedro V: Um Homem e um Rei, um olhar sobre o rei D. Pedro V (1837-1861) assinado dor Ruben Andersen Leitão. Não se trata de uma biografia, nem mesmo uma análise histórica que abarque as visões nos planos económico e social com a profundidade que um estudo do género implica. É, antes, um retrato de um jovem invulgarmente bem preparado para exercer um cargo de Estado, dotado de uma curiosidade e vontade de saber que, somada a uma firme conduta ética dele teriam feito uma figura central da vida política portuguesa do século XIX, não tivesse a sua vida sido tão curta e o seu reinado (de 1856 a 1861) tão cedo interrompido. De resto, das comparações que o autor tece entre D. Pedro V e o nada preparado seu irmão D. Luis (que herdaria o trono em 1856), e os pararelos que estabelece depois entre este e o igualmente inesperado rei D. Manuel II (1908-1910), Ruben Andersen Leitão encontra explicações para a decadência e queda da monarquia em Portugal.

O livro deve muito à leitura que o autor fez das memórias que o jovem príncipe e, depois, rei, deixou registadas. São particularmente interessantes as reflexões que o jovem monarca registou sobre a qualidade do ensino em Portugal. Assim como vale a pena acompanhá-lo nas viagens que fez por França, Bélgica ou Reino Unido pouco antes do início do seu reinado, numa altura em que a regência era assegurada por D. Fernando, o seu pai. Em 1854, após visita a um observatório astronómico em Bruxelas, diz o futuro rei: “E quando se pensa que nos países em que o horizonte está quase constantemente coberto os sábios se ocupam com observações, procurando colher delas os possíveis resultados, e que pelo contrário nas belas noites estreladas do nosso clima abençoado os nossos observadores em papel dormem sossegadamente nas suas camas, é preciso confessar que somos muito mandriões e que desprezamos muito a ciência”. Noutra ocasião reflecte sobre o estado do (des)governo do país afirmando que, “infelizmente na nossa terra conserva-se demasiadamente a lembrança da desordem e dos maus costumes, porque há 50 anos que Portugal está sem governo, verdade que parece um pouco dura, talvez um pouco exagerada, mas que nem por isso deixa de ser verdade”... Isto em meados do século XIX. Dá vontade de ler, certo?