Mês Clássicos Disney - 5
Este mês pedimos a uma série de amigos que nos falassem do “seu” filme da Disney. Hoje, contudo, a coisa fica por aqui mesmo, com um dos autores deste blogue. E recordamos A Bela Adormecida, longa-metragem de 1959.
Antes mesmo der ser um filme A Bela Adormecida era para mim um disco com o diâmetro de um single. Com a palavra “estorinhas” na capa, vozes brasileiras e acompanhado por um livrinho ilustrado, contava a história da princesa Aurora, do príncipe Filipe, das fadas Fauna, Flora e Primavera e de Malévola, a fada má com uma daquelas gargalhadas de assustar que ninguém esquece quando é tão pequeno... Era um entre vários títulos que juntava aos singles de José Barata Moura, a canção-tema de Um Violino no Telhado, um EP de Jacques Brel, outro de Gilbert Bécaud, um disco com o tema título da série Sandokan, uns sete polegadas com canções eurovisivas (Mónaco 71, Luxemburgo 72 e 73, Holanda 74, ou seja, a minha preferida de cada ano), uma Carmina Burana de Carl Orff, uma 9ª de Beethoven, a Pequena Serenata de Mozart e mais umas histórias made in Portugal (da Carochinha ao Mata Sete de uma Vez) que faziam a génese de uma colecção de discos que ninguém imaginava ainda que acabaria por trilhar rumo a uma profissão. A mesma história morava num volume de contos de Perrault que devo ter lido pela mesma altura. Pouco depois era narrativa que reencontrava num disco view-master. E só mais tarde uma longa metragem para ver num grande ecrã.
A Bela Adormecida nunca deixou de ser o meu filme preferido da Disney. Nem mesmo perante a multidão de cãezinhos que vemos em 101 Dálmatas, o irresistível calypso que escutamos n’A Pequena Sereia ou a excelência atingida pel’O Rei Leão. É em tudo um herdeiro do cânone lançado logo em 1937 por Branca de Neve e os Sete Anões, de resto acabando até por retomar algumas ideias que essa primeira longa-metragem havia deixado de lado, como por exemplo o moldar da figura do príncipe Filipe à imagem de Douglas Fairbanks. É um conto de fadas com os condimentos da praxe. Mas com uma mas melhores vilãs da Disney, uma banda sonora baseada no bailado de Tchaikovsky igualmente inspirado pelo conto de Perrault e um trabalho invulgar e deslumbrante na imagem.
Visualmente A Bela Adormecida é um dos mais impressionantes feitos da Disney. A produção, mais longa que o habitual, permitiu espaço (e liberdade) ao designer Ken Anderson e ao colorista Eyevind Earle (que concebeu os cenários) para que criasse um mundo que, se por um lado acolhia heranças do conhecimento que temos da Idade Média, por outro procurava um pólo de modernidade através de formas com uma angulosidade mais vincada e uma paleta de cores vibrante. Cumpriu-se afinal o desejo de Walt Disney que, depois de Branca de Neve e os Sete Anões (1937) e Cinderella (1950), pretendia que o reencontro com o universo dos contos de fadas lhe desse um filme diferente e arrebatador. Assim foi.