Ser actriz — eis a questão. Não de televisão ou de cinema. Não de "telenovela" ou de "filmes". Mas apenas isso: ser actriz. Ser. Rita Blanco é uma actriz assim e, se dúvidas ainda houvesse, a sua participação no notável Sangue do Meu Sangue, de João Canijo, bastaria para as dissipar. Mérito de Canijo, sem dúvida, que soube criar um dispositivo de representação raro no cinema português. Mérito também de um elenco que, incluindo as igualmente brilhantes Anabela Moreira e Cleia Almeida, corresponde para além de todos os clichés dramáticos, sociais ou figurativos. Nesse contexto (e um actor/actriz é também o seu contexto), Rita Blanco ensina-nos a olhar para o que realmente acontece no ecrã, garantindo uma verdade existencial que integra, e supera, todos os artificialismos que qualquer representação necessariamente envolve. Ser actriz — eis o milagre.