Nos rituais de fim de ano, os mortos aparecem numa lista mais ou menos metódica, cruzando sensações contraditórias que podem ir desde a perturbação mais radical (Muammar Kadhafi) até á mais cristalina nostalgia (Elizabeth Taylor). Sabemos que Amy Winehouse pertence também a essa lista. Em todo o caso, nem que seja por simples didactismo de uma outra lista, a das dores humanas, necessitamos de acreditar que o destino necrológico não basta para quem nos deixa aos 27 anos de idade. Tivemos um álbum póstumo, Lioness: Hidden Treasures, e isso bastaria para a resgatarmos do silêncio da morte. E ficámos com a expressão linear, tocante e irredutível, da suprema vulnerabilidade do factor humano — em tempos de vergonhosa exploração jornalística dos "famosos" (Amy incluída, antes e depois da morte), eis a lição que ela também nos lega. E que, em boa verdade, não se cansou de cantar.