Nasceu em Inglaterra, transformou-se numa das grandes estrelas da idade de ouro de Hollywood e adquiriu a dimensão mitológica de ícone da sétima arte — Elizabeth Rosemond Taylor faleceu no Cedars-Sinai Medical Center, de Los Angeles, contava 79 anos.
Na genealogia mais ou menos dramática das stars nascidas na década de 40, já com o cinema sonoro consolidado, Elizabeth (“Liz”) Taylor conseguiu resistir ao facto de ter começado muito nova (o primeiro título da série Lassie, Lassie Come Home, surgiu em 1943, tinha ela 11 anos), transformando-se numa actriz plenamente adulta, detentora dessa secreta arte de sedução da câmara que, através da beleza e para além dela, define o poder do glamour.
A personagem de Angela Vickers, em Um Lugar ao Sol (1951), de George Stevens, pode servir de bilhete de identidade do seu inigualável brilho (afinal, ser uma estrela é, de alguma maneira, inscrever modulações de luz nas imagens). Contracenando com o genial Montgomery Clift, Taylor vivia as convulsões de Uma Tragédia Americana (Theodore Dreiser) no limite de um intimismo em que a vertigem romântica se dissolve na nitidez cruel da morte.
Ganhou dois Oscars, com Butterfield 8 (1960), de Daniel Mann, e Quem Tem Medo de Virginia Woolf (1966), de Mike Nichols. Foi a vedeta caprichosa e apaixonada de Cleópatra (1963), de Joseph L. Mankiewicz, filme imenso e fascinante cujas atribulações de produção se confundem com o seu romance com Richard Burton (o filme deixou marcas tão fundas em todos os envolvidos que, desde o seu lançamento e até ao final da sua vida, o próprio Mankiewicz se recusava a falar dele em público). Foi ainda a maravilhosa actriz de filmes tão extraordinários como Gigante (Stevens, 1956), derradeiro trabalho de James Dean, Bruscamente no Verão Passado (Mankiewicz, 1959), de novo com Clift, e Reflexos num Olho Dourado (John Huston, 1967), onde contracenou com Marlon Brando.
Como todas as grandes estrelas, Taylor possui uma biografia carregada de factos, atribulações e futilidades (entendo-se, aqui, o fútil também como uma perversa forma de arte), desde o seu empenho em causas humanitárias, nomeadamente na angariação de fundos para o combate à sida, até ápaixão pelas jóias, passando pelos seus oito casamentos (dois com Burton).
Em todo o caso, talvez se possa dizer que ela foi alguém que nunca banalizou a relação, nem que fosse iconográfica, com essa parte de infância que não nos deixa indiferentes à possibilidade da inocência. Como se entre a criança de Lassie e o fulgor de Cleópatra apenas existisse uma diferença de grau, mas não de apego à verdade. Ela foi, afinal, uma das mais fiéis e incondicionais amigas de Michael Jackson. Na hora da sua morte, por uma vez, os especialistas da difamação refugiam-se num saudável silêncio.