segunda-feira, dezembro 05, 2011

Novas edições:
B Fachada, B Fachada


B Fachada 
“B Fachada” 
MBari 
4 / 5 

Não há recta final de ano discográfico sem o já habitual disco de B Fachada. Com temática sazonal ou nem por isso, o certo é que, ano após ano, o cantautor mais justamente celebrado da sua geração tem vindo a construir uma obra que prima, além de uma certa omnipresença do “eu” nas suas narrativas, por um gosto em tactear caminhos sempre diferentes. Ao novo álbum, ao qual chamou apenas B Fachada, convocou a presença protagonista do piano como com as suas palavras, “mais a rimar” que a tentar ser poeta (e talvez por isso verdadeiro a si mesmo no tom confessional que procura e tão eficaz na comunicação com quem o ouve). B Fachada não é um ciclo de canções para voz e piano, nem procura sequer uma lógica temática de conceito que o caracteriza. As canções parecem antes procurar um ponto de entendimento entre o momento que vive e os episódios que viveu, entre as histórias que conta e as confissões que revela morando a alma de canções que respiram um sentido de verdade como as que conhecemos de discos anteriores. Ao redor do piano há ecos e pequenos acontecimentos adicionais, texturas que outros teclados ajudam a criar, ocasionalmente alguma discreta electricidade, certo parecendo um afastamento de eventuais caminhos “roque”, a ironia auto-crítica que encontramos logo em Sozinho no Roque (tema que abre o disco) deixando claro que aquele, de certeza, não será o seu caminho. Depois há as histórias que ora sente ora observa, olhares onde um humor que já vamos conhecendo e um sentido de crítica que lhe é caro constroem mais um episódio na afirmação de uma linguagem que já atingiu a plenitude da demarcação de uma personalidade própria. Mais melancólico nas formas (e a voz do piano não será estranha a esta característica), B Fachada é mais um volume a reter numa obra em construção que, como poucas no actual panorama da música popular portuguesa, continua a mostrar, apesar do ritmo invulgarmente insistente de edições, a mostrar-nos discos que sabem sempre acrescentar algo aos que o precederam. Uma vez mais B Fachada justifica o estatuto que lhe foi confiado.