domingo, novembro 13, 2011

Lisbon & Estoril Film Festival (dia 10)


Passou na competição do Lisboa & Estoril Film Festival o filme russo Target, assinado por Alexander Zeldovich. Um ensaio em registo de ficção científica que não convence. Nada mesmo!

O que não falta no cinema (nem na literatura) de ficção científica são visões distópicas de cenários de futuro em que, apesar dos avanços da tecnologia, as características comportamentais do ser humano acabam por nos conduzir a cenários afinal longe dos idílios projectados. É o que acontece em Target. O filme imagina uma Rússia bem sucedida, em cenário que mostra no calendário o ano 2020. Os problemas sociais e políticos estão resolvidos e Moscovo é uma cidade aparentemente tranquila, limpa e próspera. No foco da câmara estão algumas figuras da elite moscovita, entre os quais um político de alta hierarquia, um apresentador de televisão e uma mulher com um programa de sucesso na rádio. Cientes do rumor da existência de uma espécie de fonte de juventude numas instalações científicas (da era soviética) abandonadas algures entre distantes montanhas, embarcam em viagem, um pouco como quem vai às termas passar uns dias de férias. Diz-se que quem ali fica, exposto às radiações, não só rejuvesce como vê a sua percepção ser amplificada... Mas o belo tem sempre um senão. E no reverso do prémio pode haver azar...

Se as premissas não parecem na verdade (salvo o cenário russo) trazer nada de novo, a evolução da narrativa e a própria realização muito menos. A direcção artística explora uma linguagem em tons claros, de design minimalista, tudo limpinho e lindinho (OK, é o que o argumento pede...). Mas onde o filme tenta ser diferente na verdade revela pouca ginástica. Não há alusões à cultura americana (como que se em nove anos a mais expressiva e globalizada das culturas do século XX desaparecesse do mapa... até mesmo na Rússia). Fala-se antes de uma maior expressão da cultura chinesa (nada contra), mas a visão está longe do tom credível que Ridley Scott criou, há quase 30 anos, no seu Blade Runner. O animador de televisão mostra, por um lado, um registo tolinho muito já em voga nos dias de hoje (aqui a coisa nem é ficção nem científica, mas para caricatura do género já bastou o repórter que vimos no barroco Quinto Elemento de Luc Besson)... Mas o que há de mais distópico de Target nem são estes detalhes de concepção de cenário de época projectada no futuro. É mesmo a forma como a narrativa evolui, os jogos de amores e traições que gastam tempo e mais tempo ao espectador e a revelação do reverso da medalha de um sonho outrora aparente que, juntamente com uma realização que por vezes procura olhares que parecem mais coisa de publicidade que de cinema, fazem de Target um filme falhado.

Podem ver aqui a programação para hoje