domingo, novembro 13, 2011
Entrevistas de arquivo:
Duran Duran, 2005 (parte 2)
Nick Rhodes, o homem que fez o primeiro download legal da história falou em 2005 em exclusivo ao DN sobre os Duran Duran, entre reflexões sobre o passado e a projecção do futuro. A entrevista, cuja segunda parte concluímos hoje, foi então publicada no suplemento DN:música com o título ‘Regresso ao Futuro’.
Como é que, com o passar dos anos evoluiu a sua visão sobre a fama e celebridade?
Ainda bem que não estou a começar hoje! Porque creio que as pessoas têm uma visão diferente das coisas. Nós não quisemos nunca ser famosos, mas antes ser compositores bem sucedidos. Com isso, a um certo nível de reconhecimento, atingia-se a fama. Mas hoje as pessoas lançam-se para ser apenas famosas. Não lhes interessa como, nem porque a alcançam, muitas vezes apenas por estarem sentados num jacuzzi num reality show na televisão. Esse mundo é completamente diferente do meu e não corresponde ao que me interessa e preocupa. O culto da fama ensombra quem é criativo e está a fazer coisas. É claro que ainda há estrelas no cinema e no rock, mas muitas vezes vemos nomes com carreira a não passar do número 45 e alguém que vem do Pop Idol a entrar de rompante no número um! Isso perturba-me...
E não se trata de uma aplicação do velho conceito dos 15 minutos de fama de Andy Warhol...
Não, são os 15 segundos de fama! O conceito também tem de ser revisto, com tantas mudanças. Mas a verdade é que sinto alguma pena pelos miúdos que são lançados desta maneira. Alguns até têm boas vozes, alguns tocam bem os seus instrumentos, mas o seu mundo é outro. Nos anos 70, assim como nos 80 ou 60, este tipo de artistas estariam no circuito dos cabarés, a tocar em restaurantes. Agora subiram ao mainstream. É desconcertante. Eu, de resto, já debati, na Oxford Union, que se crie um top especial para este tipo de música. Um top para tudo o que parte dos programas de televisão, deixando o outro top para os criativos...
Os Duran Duran são hoje veteranos com mais de 25 anos de carreira [neste momento mais de 30]. Que modelos procuram, seguir na hora de pensar e reflectir como envelhecer na pop de maneira sábia?
Bom, não há muitos... Temos os Stones, para quem olhamos com um sorriso e comentamos que ainda são capazes de o fazer. Gosto que continuem a editar discos, mesmo que não sejam já o reflexo do clímax dos seus poderes criativos. Mas ocasionalmente aparece uma boa canção. Temos ainda os U2 na nossa geração. E os Depeche Mode, de quem se tem ouvido falar pouco recentemente. Isto entre bandas. Com artistas é diferente. Há um Bowie, Madonna, Elton John... Há poucas bandas veteranas. Bom, há os Eagles, mas não têm nada a ver connosco! Da nossa geração sobreviveram os U2 e os Depeche Mode.
Os Roxy Music, na altura de vincar sobriedade e veterania gravaram Avalon. Farão os Duran Duran, um dia, o seu Avalon?
Belo disco! Mas não sei se faremos um... Faremos o que tivermos de fazer, o que acontecer. O que se passa é que somos uma banda de cinco Peter Pans. Ninguém parece querer crescer. Todos gostamos da música nova que se vai fazendo e tocando. Gostamos de bandas novas e não de olhar par trás e ver as antigas. Gosto dos LCD Soundsystem... Belo álbum! Por isso não sei se faremos um álbum “maduro” (risos)... Mas a verdade é que gostei muito do Avalon.
Apesar de estar atento às novas bandas, como se relaciona hoje com os seus velhos ídolos? David Bowie, Kraftwerk? Roxy Music?
Estou atento a todos eles e respeito-os muito. Vi o Bryan [Ferry] em Londres há poucas semanas e saímos uma noite. Estivemos a conversar um bom bocado, porque não nos víamos há muito tempo. Ele está a preparar o álbum dos Roxy Music, e claro que o vou ouvir [projecto que entretanto não se concretizou]. O David Bowie também vi recentemente num evento ligado com a Interview em Nova Iorque, pareceu-me em boa forma, mas está num período de pausa. Os Kraftwerk... Bom, uma das minhas maiores decepções do último ano foi não ter conseguido ver o concerto deles! Espero que marquem mais para que os possa ver.
E o que pensa da EMI estar a aproveitar este momento para explorar o velho catálogo dos Duran Duran?
Fizeram o mesmo aos Beatles... O que posso dizer, mesmo assim, é que o departamento de arte inglês da editora tem tido muito cuidado com os repackages, com as caixas, e têm-nos mostrado o que estão a fazer. E nós podemos intervir nesse aspecto. Mesmo que eu não possa evitar que certos produtos sejam editados a determinada altura, prefiro mesmo assim garantir que os fãs possam adquirir algo bem feito. Gosto da forma como trataram das caixas com os singles, com os DVDs e espero que assim volte a ser com o repackage do greatest hits.
Ainda vão reeditar versões remasterizadas dos álbuns de finais de 80 e, eventualmente, lançar em DVD Working For The Skin Trade?
Creio que sim. Eventualmente todo o catálogo acabará por ser reeditado nos novos formatos. Gostei das reedições dos três primeiros álbuns naquelas caixas de cartão.
Os Duran Duran têm uma canção meio cantada em português. Trata-se de Breath After Breath, um dueto com Milton Nascimento. Como surgiu essa ideia?
Gosto muito dessa canção. E gosto também muito da música do Milton Nascimento. Foi o Warren quem trouxe a sua música para bordo. Mostrou-nos alguns discos numa altura em que estava a viver um romance com a música brasileira. Ouvimos e fiquei impressionado por toda aquela emoção, por aquelas melodias tão belas, tão ricas. O Warren sugeriu que trabalhássemos com ele e todos nós concordámos. Telefonámos-lhe, sabendo já que era um grande fã da música inglesa, sobretudo dos Beatles. Trabalhámos juntos na canção juntos, passámos algum tempo com ele. Depois filmámos um teledisco nas cataratas de Iguaçu. Gostei muito dele. É um artista muito criativo e hoje tenho muitos discos dele.
Esse teledisco, assim como os de My Own Way, de Do You Believe In Shame e muitos mais ficaram de fora do DVD de Greatest. Não têm planos para os editar?
O que gostaríamos de fazer com a EMI, quando o tempo for propício, será uma antologia como deve ser. Uma antologia que recupere também algumas gravações mais obscuras, coias que nunca chegaram a figurar nos álbuns, que nunca acabámos e que podemos assim dar finalmente aos fãs. Dos concertos ao vivo aos lados B, dos programas ao que mais houver, os telediscos...
As sessões do projecto TV Mania, com Warren Cuccurullo, serão algum dia editadas?
Sim, sem dúvida [ainda não viram a luz do dia, contudo]. Ainda há dias estava a falar com o Warren porque no próximo ano passam dez anos sobre as sessões que gravámos e nunca editámos. Podíamos fazer a caixa comemorativa dos dez anos (risos)... Um primeiro álbum está terminado, o Bored With Prozac And The Internet. Íamos fazer ao todo três discos, e temos canções suficientes, mas não as terminámos. Doze temas estão concluídos. O disco deve sair para o ano.
Quem canta?
A televisão é a voz principal. Uma das faixas é constituída apenas por sons tirados da televisão. O baixo é da televisão, a batida é da televisão, tudo é da televisão... Mas quando se ouvem as gravações parece mesmo que, de facto, este agora é o momento certo para editar o disco. Não se parece com nada...
Mais de 20 anos passados sobre o seu livro de polaroids Interference volta a ver a televisão como uma fonte de material para trabalho artístico...
Sim, é verdade. A televisão é a realidade mais presente em todo o lado. Olhamos para todo o lado e vemos televisões.
Warren Cuccurullo já não está no grupo. Reconhece a sua importância na etapa em que foi o guitarrista dos Duran Duran?
Absolutamente! Completamente! Nunca subestimo a quantidade de música que o Warren trouxe a esta banda. Foi um prazer trabalhar com ele, gosto muito dele como pessoa e falamo-nos com muita regularidade. Mas chegou um momento em que era a sua altura para se afastar. Tínhamos chegado um ponto na nossa relação em que tivemos de tomar esta atitude... Agora a poeira já assentou, está novamente a fazer música. De resto vai enviar-me ficheiros de som pela Internet para que eu colabore e toque no que está a fazer agora. As canções em que ele tocou são reconhecidas. O Andy e o Roger são os primeiros a dizer que o Ordinary World é uma das melhores canções que estão no actual alinhamento dos concertos. Assim como o Come Undone. E vamos começar a tocar outras... Já ensaiámos o Electric Barbarella, mas é sempre difícil escolher que temas acabam ou não no alinhamento final dos concertos...
Estão a gravar esta digressão para mais um DVD?
Sim, gravámos alguns concertos nos Estados Unidos e temos uma câmara que nos acompanha a toda a hora para um documentário. Mas, ainda antes, já em Setembro, vamos editar um CD e um DVD ao vivo. Foi o concerto gravado em Wembley, no ano passado, pelo que não tem muitas das novas canções. De facto, só tem até o Sunrise e o What Happens Tomorrow...
Correspondem às imagens do DVD que acompanha a edição limitada de Astronaut?
Precisamente, é esse mesmo o concerto. Ainda bem que aproveitámos a oportunidade de o registar pelos palcos, os cinco ecrãs.
E o que pensa da globalização do download como via preferencial de um futuro mercado da música?
Gosto do progresso, daí que esse futuro não me assuste. Os Duran Duran foram os primeiros a vender uma canção por download com o Electric Barbarella... E essa aposta pioneira se calhar custou-nos as hipóteses dessa canção se poder transformar num sucesso. Porque, na América, as principais cadeias de lojas de discos ficaram furiosas e mesmo amedrontadas pelo sucedido. Sentiram que estávamos a ir directamente ter com o público... E a ironia é que quase não vendemos downloads dessa canção, até porque aquilo era uma coisa demasiado nova e as pessoas não só não sabiam o que aquilo era, assim como tinham medo de usar um cartão de crédito, nem como tudo aquilo funcionava. Afinal estávamos em 1997! Mas tive um enorme prazer de estar nos estúdios Abbey Road, em Londres, pegar no meu dinheiro e comprar o primeiro download alguma vez vendido pela Internet. Hoje sorrio... tinha razão! Nessa altura os Duran Duran tinham já 20 anos de vida, porque não foi uma banda nova a fazê-lo?
É inevitavelmente o futuro da indústria musical?
Este é claramente o futuro. Vejo muito desenvolvimento a caminho. Os sites dos músicos estão também mais sofisticados... É claro que quero combater a pirataria, como quase todos os músicos querem. Até porque, se alguém entrar numa loja e levar alguma coisa sem pagar, pode ser-se preso. É roubo! E é a mesma coisa. E confesso que, se as pessoas não tiverem dinheiro para a comprar a música, preferia antes que tivessem dinheiro para o poder fazer como deve ser... A música é uma fonte de prazer enorme! Gosto muito de ouvir a música de outros, mas faço questão de comprar os discos. Ou de fazer o download das canções no iTunes. Se se vive no meio de nada, se se tem um computador e não há nenhuma loja de discos por perto, os downloads são uma grande ideia... Muitas vezes faço o download primeiro, mas acabo por comprar o disco.