sexta-feira, novembro 18, 2011

Benetton contra o ódio (2/6)

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Porque é que a Benetton cria simulacros de beijos entre figuras emblemáticas do planeta?
A julgar pelo preconceito mais severo que se abateu sobre a campanha UnHate, trata-se apenas de vender produto... É, de facto, espantoso. Todos os dias vemos alguma publicidade a tratar as mulheres como objectos mais ou menos descartáveis. Todos os dias vemos anúncios com jovens reduzidos a "seres-que-gritam", ou porque querem um telemóvel, ou porque partilham uma qualquer marca de cerveja. Todos os dias vemos os desígnios promocionais de algumas marcas a injectar no tecido social visões simplistas, retratos moralistas ou meras celebrações da estupidez... Mas uma entidade aposta em pensar as imagens que utiliza e é de imediato reduzida a qualquer coisa de eminentemente suspeito.
Que vemos, então, quando vemos Barack Obama a beijar Hugo Chávez? Vemos a própria imagem a citar o impossível que habita o real. E talvez seja isso que nenhum preconceito tolera: o facto de a imagem se afirmar como imagem, não como transparência ou reprodução — só o infantilismo televisivo acredita (ou quer fazer acreditar) que a imagem é um decalque (seja do que for).