sexta-feira, novembro 25, 2011

As mulheres de Cronenberg (2)

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Que vê o herói de Spider (2002) quando contempla a sua mãe? Que mulher é esta que se duplica no narcisismo do espelho, por assim dizer devorando o narcisismo do próprio filho? Em toda a filmografia de David Cronenberg, este é, talvez, o filme que mais directamente encena o mais doloroso dos temas: a utopia perdida da própria maternidade. Não por acaso, o cineasta entrega duas personagens à extraordinária Miranda Richardson: a mãe e a dona da casa onde 'Spider' se alberga. Como se através desta esquizofrenia de representação, o próprio filme se expusesse ao radicalismo da solidão que o atravessa. Reparemos na amorosa tristeza da criança.