quarta-feira, outubro 12, 2011

De regresso ao velho Oeste


Chegou ao DVD o filme O Atalho, de Kelly Reichardt, um western dos nossos dias que nos leva ao encontro de um incidente real, nos caminhos desencantados do Oregon Trail, em 1845.


Em tempos houve quem tivesse ditado que a ópera era uma coisa acabada. Não parece que esteja... Houve também quem tivesse cantado, quando o home video surgiu, que o cinema tinha os dias contados. Pois... Por isso, quando alguém diz, por exemplo, que qualquer género cinematográfico é filão esgotado, permitam-nos o cepticismo perante tão determinante “máxima”, pelo que ficamos antes à espera para ver se a coisa é mesmo assim... E na verdade, mais que conhecerem um fim, muitas coisas tendem antes a transformar-se... Sobretudo nos planos da criação artística. E por isso, quem pensava que o western era coisa passada, guardada na memória de velhos clássicos de outras décadas, nos últimos anos viu alguns inesperados exemplos (por Ang Lee ou pelos irmãos Coen) de como esse é, afinal, um palco ainda aberto a novas abordagens. Um dos mais brilhantes reencontros do cinema com as memórias do velho Oeste (um capítulo marcante na história da identidade americana) surgiu este ano em O Atalho, filme de Kelly Richardt que lança um olhar desafiante sobre referências com história. Com o título original Meek’s Cutoff, o filme é como uma daquelas histórias das quais não sabemos o princípio nem o fim, mas que encontramos a meio e ali ficamos, a saborear o que acontece (e também o que não acontece). O filme é baseado num incidente histórico (em 1845), entre pioneiros que percorriam o então chamado Oregon Trail e que, levados por um guia (Meek) deram por si a caminhar por um atalho que os afastou da rota e aproximou, gradualmente, de um estado de desespero. O filme propõe um olhar minimalista sobre o incidente, olhando o tom desolado da paisagem, a fragilidade da caravana e o desespero dos que nela caminhavam, lançando uma interessante ponte entre uma forma clássica de olhas as histórias do velho Oeste e um novo modo de as contar. Simplesmente magnífico.