sexta-feira, setembro 23, 2011

Mês Björk (23):
Uma selecção islandesa


Um olhar pelos discos que chegam da Islândia, uma ilha pequena que tem gerado algumas das maiores surpresas dos últimos anos. Entre os nomes já conhecidos e uma selecção de novos talentos emergentes ( e a aguardar iminente internacionalização), aqui ficam dez razões para estar atento a Norte... Esta selecção de dez discos foi publicada na edição de 25 de Janeiro de 2003 do suplemento DNmais.


Sugarcubes 
Life's Too Good (1988)
Uma das maiores surpresas dos cenários pop/rock alternativos em finais de 80, os Sugarcubes foram o cartão de visita para a voz de Björk nos circuitos internacionais. Não era a primeira vez que uma banda islandesa se internacionalizava (os Mezzoforte haviam-no feito anos antes), mas pela primeira vez o mundo era surpreendido por formas diferentes e ousadas, alertando para as erupções de personalidade e carisma a que a Islândia depois nos habituaria. Este disco é um pioneiro. E um clássico. 2002.
 
Ampop
Made For Market (2002)
Outro exemplo de banda pop com clara afinidade com as ferramentas electrónicas, os Ampop são um grupo de Reikjavik que cruza o som digital e polido das melodias com uma vocalização ora atmosférica, ora mais tradicional. Com referências em nomes como os Portishead, Brian Eno, David Sylvian ou FSOL, assinaram, depois do brilhante Nature Is Not A Virgin, este segundo Made For Market, um seguro desenvolvimento de linguagens, com resultados deslumbrantes. 1993.

Björk
Debut (1993)
Apesar de se ter estreado com Björk em 1977 e de ter editado diversos outros discos desde meados de 80 (nos Tappi Tikarrass, Kukl e Sugarcubes), muitos só repararam em Björk neste disco que assinala o início de uma segunda etapa a solo. Trata-se de um dos mais marcantes álbuns dos anos 90, cruzando a canção com electrónicas, ora em modelos próximos das normas pop/rock, ora procurando uma ideia de retratos-ambiente. De certa forma este é o verdadeiro arranque de uma obra notável.

Múm
Finally We Are No One (2002)
Socorrendo-se de ferramentas electrónicas (como haviam feito nos discos anteriores), os Múm conseguiram no seu álbum de 2002 (o quarto da sua discografia) encontrar um ponto de espantosa convivência entre a ideia de ambiente e o traço sugestivo de discretas melodias sussurrantes e envolventes. Com um magnífico single de avanço em Green Grass Of Tunnel, o disco revela uma sensibilidade digital de rara beleza e facilmente acabou inscrito entre os porta-vozes da geração indietrónica.

Gus Gus 
This Is Normal (1998)
O colectivo, que chegou a contar com nove músicos, havia-se estreado em Polydistortion, em 1997, um disco de investigação na linha da frente da electrónica dançável. No ano seguinte, This Is Normal aplicava as conclusões à escrita de canções polidas e espantosamente contagiantes. Temas como Ladyshave ou Starlovers são exemplos da melhor pop dançável de finais de 90, devidamente acompanhados por telediscos à altura, vincando o potencial de exportabilidade da nova geração islandesa.

Ensími
Ensími (2002)
Descendente de uma importante geração punk que fez escola em Reijkavik nos anos 80, a actual cena rock islandesa mostra uma série de bandas, como os Botnledja, Magga Stina ou Ensími, capazes de jogar cartas em baralhos internacionais. Os Ensími são, apesar do apoio dos Blur aos Botnledja, a banda mais preparada para, neste momento, poder dar o salto. Este álbum, o seu terceiro, mostra quer as marcas dessa herança punk local quer, sobretudo, uma reinvenção da força shoegazer.

Sigur Rós 
Agaetis Byrjun (1999)
Lançado nos mercados internacionais apenas no ano 2000, foi a definitiva chamada de atenção dos melómanos para com o que acontecia a Norte... Com impressonante capacidade de traduzir a essência da paisagem crua, mas viva da região, ora atenta aos gelos dos glaciares ora ao fogo das lavas, a música dos Sigur Rós em pouco ganhou exposição internacional, graças a boleias dos GYBE! e Radiohead. O disco transformou o discreto e sensível quarteto num fenómeno global de culto.

Leaves
Breathe (2002)
Quarteto de Reijkavik, os Leaves são a primeira banda islandesa a merecer a atenção de uma multinacional na sequência do êxito global dos compatriotas Sigur Rós (que, de resto, trataram imediatamente de "apadrinhar" a sua exportação). Algures entre o som dos Sigur Rós e evidentes traços da "escola" Coldplay, serão talvez a menos carismática das bandas da nova geração e certamente aquela em que os traços de personalidade mais se confundem com as linguagens rock do momento.

Bang Gang 
You (2000)
Outro exemplo da interessante relação das ferramentas electrónicas com um sentido clássico de construção de canções pop, os Bang Gang são mais um nome islandês a tentar a dar o salto para cá das margens da ilha. O seu álbum de estreia (de 1998) foi sujeito a um trabalho de actualização (contando inclusivamente com uma remistura de Kid Loco) . Recebeu nova capa e novo nome, em busca de atenções internacionais. Tinham tudo para que a sorte lhes sorrisse...

Apparat Organ Quartett 
Apparat Organ Quartett (2002) Foram apontados como a grande revelação local de 2002, dados então como uma potencial next big thing para deleite internacional. O seu álbum de estreia foi editado na Islândia em 2002 e teve depois a luz verde de distribuidores internacionais. O som evoca claramente os Kraftwerk, Ennio Morricone e Stereolab. O grupo, um quarteto, inclui na sua formação Johann, que alguns poderão conhecer do projecto Lhooq. Tocaram em inícios de 2003 no Eurosonic, para as rádios jovens de serviço público europeias.