segunda-feira, setembro 12, 2011

Mês Björk (12)
A escolha de Isilda Sanches


Pedimos algumas opiniões sobre os melhores discos de Björk. E hoje é Isilda Sanches, da Rádio Oxigénio, quem nos apresenta o seu álbum preferido da cantora islandesa. À Isilda um muito obrigado por esta participação.

Debut não é o primeiro disco de Bjork, mas na altura ninguém conhecia outro passado à pequena islandesa com ar de duende que não fosse o de vocalista dos Sugarcubes. Poucos sabiam, por exemplo, do disco que lançara aos 11 anos (Bjork), ou das bandas punk, jazz e góticas em que tinha estado antes dos Sugarcubes, por isso Debut era, literalmente, o principio de tudo. O disco saiu em 1993, mas Bjork já trabalhava nele desde a fase final dos Sugarcubes, o grupo que colocou a Islândia no mapa.

Até então, meados dos anos 80, a Islândia era mais ou menos terra de ninguém, pouco ou nada se sabia sobre o que lá se passava (musicalmente e não só). Mas depois o Melody Maker e John Peel renderam-se a Birthday, o single de 87 que fez dos Sugarcubes a next big thing da altura e o mundo converteu-se às estridências de Bjork. O encantamento prolongou-se durante toda a fase Sugarcubes e fez com que Debut fosse um disco vencedor mesmo antes de ter saído. Human Behaviour e Venus as a Boy, os primeiros singles, elevaram as expectativas e foram recebidos como mel pelo público herdado dos Sugarcubes, mas o mais surpreendente estava mesmo reservado para o álbum. Debut foi produzido por Nelle Hooper, antigo membro do Wild Bunch, o sound system de Bristol que deu origem à cena da cidade britânica na primeira metade dos anos 90, Massive Attack incluídos. Hooper, que já tinha apurado a sua arte nos dois primeiros álbuns dos Soul II Soul deu a “Debut” uma personalidade dançante e abriu novas portas a Bjork.

Bjork sabia que a cena electrónica fervilhava e que havia um publico ávido de dançar e ser feliz. Percebeu que a música de dança e as remisturas tinham grande potencial como fenómeno pop. Big Time Sensuality e Violently Happy, as duas canções com mais pulsar de pista, fizeram culto nos clubes graças a remisturas de nomes grandes da altura como Fluke, Masters at Work ou Dave Morales. Isso ajudou-as a tornarem-se clássicos. Em meados dos anos 90, na cena de dança, tudo parecia novo, sobretudo o êxito pop. O que hoje é perfeitamente natural, ter música de dança nas tabelas de vendas, era na altura uma realidade nova que começava a desenhar-se como resultado da tempestade acid house e da cena rave que fizeram os amantes de música perder a vergonha de dançar. Num contexto habituado a festas no meio da floresta com seres coloridos e luzes a correr na escuridão, Bjork surgia como uma figura mágica, o ser perfeito de um mundo de fantasia. Capaz de fazer versões com harpa de standards americanos (Like Someone In Love), baladas emotivas com delicados arranjos de cordas (The Anchor Song) e de gravar canções em casas de banho a cantar as virtudes de fazer coisas simples sobre a inconsequência da clubland, tudo suportado por vigorosa e contagiante batida house (There’s More To Life Than This, alegadamente gravada ao vivo na casa de banho do Milk Bar, em Londres).

Em entrevista à I-D de Maio de 1993 Bjork dizia: “Este disco é sobre estar cansada de ir a uma grande loja de discos à procura do melhor disco do mundo e sair de lá com mais um Miles Davis porque não há nada desafiante a acontecer”. Debut foi, e ainda é, desafiante e para isso contribuiu não só a visão e ousadia de Bjork mas as pessoas que as lhes deram vida. Além de Hooper, que na verdade é tão responsável pelo disco como a própria Bjork, participam em Debut alguns nomes notáveis da cena electrónica britânica da altura: Graham Massey (808 State), Tim Simenon (Bomb The Bass), Talvin Singh, Howie B, Jhelisa Anderson… até Luis Jardim está nos créditos! Em Debut Bjork começa também a afirmar a sua convicção na força da imagem e escolhe a dedo os realizadores dos videoclips (tão importantes para o impacto do disco quanto as canções e as remisturas): Michel Gondry, Jean Baptiste Mondino ou Stephane Sednaoui. Tudo somado, Debut é um dos discos mais importantes dos anos 90. O retrato de uma época, as raízes de uma das artistas mais emblemáticas dos últimos 25 anos. Para mim continua a ser o disco mais fresco, rico e fundamental de Bjork.