domingo, setembro 18, 2011
A construção de um clássico
Gravação ao vivo, em Nova Iorque, de Glassworks, de Philip Glass pelo ensemble Signal, com Michael Riesman (piano) e direcção de Brad Lubman. Edição pela Orange Mountain Music.
Não é fácil indicar qual foi o momento em que uma obra se tornou um “clássico”. Sobretudo de ainda está perto de nós o momento da sua criação e revelação. Mas quando, na música, vemos outros nomes a interpretar peças que assim, além do compositor (ou intérpretes de uma primeira gravação), conhecem novas leituras, o caminho parece pelo menos estar aberto para que essa designação possa fazer sentido. É o que parece estar a acontecer, aos poucos, com obras que Philip Glass compôs (e em alguns casos gravou) entre os anos 60 e inícios dos anos 80. E mais um exemplo de uma obra que soma agora uma leitura à que o compositor (integrado no seu ensemble) gravou em 1982 é o célebre ciclo Glassworks. Peça em seis partes, ordenadas em três pares (que definem assim três grupos com afinidades entre si), Glassworks foi o primeiro trabalho conceptualmente criado pelo compositor para o formato (e duração) de um disco e é uma das obras-chave no assinalar não apenas do encontrar de uma linguagem capaz de abarcar as possibilidades instrumentais de um ensemble que cruza piano, electrónicas, sopros, cordas e voz, como representa o lançar de ideias que assimilavam os ensinamentos da estruturação de uma linguagem minimalista (fruto de um trabalho entre os anos 60 e 70) e o início da expressão de uma demanda de maior lirismo (que ganharia progressivamente forma em peças compostas entre meados e finais dos anos 80).
A gravação original de Glassworks (editada em 1982 pela CBS Masterworks, naquele que foi o seu primeiro registo para a editora) tornou-se num dos títulos fundamentais na discografia de Philip Glass. Agora cabe ao ensemble Signal (um nome que, como os Bang On A Can, se afirmou como presença destacada na criação de um novo relacionamento entre compositores contemporâneos e os seus públicos) o desafio de enfrentar um cânone. Com arranjos de Michael Riesman (um dos mais recorrentes colaboradores de Philip Glass), Glassworks ganhou vida, de fio a pavio, em actuação no Le Poisson Rouge em Abril de 2010. O que o disco nos mostra é a gravação dessa segura interpretação (na verdade não parecendo procurar pontos de vista distantes da que conhecemos do disco de 1982). A completar o alinhamento, uma leitura de Music In Similar Motion, obra de 1969 mais próxima das raízes da essência minimalista da música de Philip Glass.