2. ABRAHAM LINCOLN (1930), de David W. Griffith.
Para toda um capítulo essencial da moderna crítica de cinema, Young. Mr. Lincoln (1939), de John Ford, ficou como uma matriz essencial do classicismo e, em particular, da relação entre narrativa (cinematográfica) e ideologia (política) — em França, os Cahiers du Cinéma publicaram mesmo um lendário texto colectivo (nº 223, 1970) que ficou como padrão do trabalho da revista durante a sua fase "marxista" [evocado pela revista Cine-Tracts].
Não admira, por isso, que o filme (entre nós chamado e editado em DVD como A Grande Esperança) seja um daqueles objectos visceralmente clássicos, em que a história parece fundir-se com o mito. Toda a notável interpretação de Henry Fonda vai, aliás, nesse sentido: a biografia transfigura-se em parábola fundadora, não exactamente da nação, mas da nação enquanto espelho da Lei. Importa sublinhar, por isso, o young do título: trata-se de encenar Abraham Lincoln como advogado, antes de ser Presidente, como uma figura humana e uma promessa de transcendência em que todo um sistema de vida tenta encontrar a sua fundamentação legal. Para Ford, também um pai fundador (não da nação, mas do seu cinema), essa fundamentação remete sempre para uma moral colectiva vivida através de infinitas nuances individuais.
>>> Young Mr. Lincoln: ensaio de Geoffrey O'Brien no DVD da Criterion.