quinta-feira, junho 23, 2011
Novas edições:
Mimi Goese + Ben Neill, Songs For Persephone
Mimi Goese + Ben Neill
“Songs For Persephone”
Ramseur Records
4 / 5
Recordamo-la como a voz misteriosa que caminhava entre as texturas, os espaços e os silêncios que cruzavam as canções dos dois álbuns dos Hugo Largo, banda (hoje algo esquecida) que ajudou a escrever algumas das mais belas páginas da história indie norte-americana em finais dos oitentas. Mais tarde, a solo, e acompanhada em estúdio por Hector Zazou, gravou em Soak (1998) um dos mais belos álbuns de canções para voz e cenografias electrónicas que escutámos nos noventas. Ele é um trompetista e compositor com carreira veterana. Trabalhou em tempos ao lado de La Monte Young e, além de criar a sua própria música (e de ter inclusivamente inventado um instrumento), colaborou em discos de nomes como os de DJ Spooky ou John Cale. Os caminhos de Mimi Goese e Ben Neill cruzaram-se há uns cinco anos e, desde então, dão forma a um projecto que, partindo de uma relação com as paisagens do vale do Hudson e da memória de visões de autores dos tempos do romantismo, ganhou forma, primeiro, num espectáculo para música, imagens e texto (encenado na Brooklyn Academy Of Music no ano passado) e que agora chega a disco sob o título Songs For Persephone. Sem a necessidade de convocar uma qualquer caução junto de uma série de criações que, nos tempos mais recentes, têm mostrado alguns dos mais interessantes caminhos da nova música “pop” através de um renovado relacionamento com uma noção de arranjos quer escutam ecos dos espaços da “clássica” (e basta recordar discos de nomes como Sufjan Stevens, Owen Pallett, Antony & The Johnsons ou Grizzly Bear para localizar esses focos de invenção), o álbum parte de referências do romantismo e daí ruma a diálogos com o presente. Electrónicas e a “voz” incontornável do trompete de Ben Neill tecem os cenários sobre os quais a voz de Mimi Goese desenha momentos que podemos comparar à candura das pinturas dos paisagistas norte-americanos de finais do século XIX. Estamos contudo num espaço que, pelas marcas de modernidade que definem a condução da música, não representa necessariamente uma representação actual desses olhares que hoje podemos ver em museus, mas antes uma reflexão de quem, no presente, observa e assim traduz os mesmos espaços que os inspiraram. Como se desse nova vida a uma herança antiga. Mais próximas das filigranas delicadas de uma Virgina Astley que da música de nomes como Laurie Anderson, Cocteau Twins ou M83 a que tem sido comparada, esta obra criada de parceria entre Mimi Goese e Ben Neill encontra nas pontes que estabelece entre ecos do romantismo e o presente um novo lirismo que assim faz de Songs For Persephone um muito recomendável exemplo do que pode ser um ciclo de canções do nosso tempo.