Que fazer com uma actriz capaz de se transfigurar num "bicho" de emoções contidas? Que fazer com uma outra actriz capaz de se "retirar" do próprio corpo, deixando apenas à vista a aridez de um olhar que não vê? Que fazer com Maria de Medeiros e com Isabel Ruth?
O filme Viagem a Portugal, de Sérgio Tréfaut, não tem, infelizmente, resposta a estas perguntas. Ao encenar o caso verídico de uma cidadã ucraniana que se viu bloqueada na teia da burocracia portuguesa (quando, em 1998, por altura da Expo, tentava reunir-se com o marido), o filme vai-se enquistando no seu próprio formalismo, pelo caminho alienando as suas actrizes.
O recurso à fotografia a preto e branco joga-se no "efeito-bandeira" que domina todo o filme: as imagens são bandeira de uma prova "acrescida" de real (menos cor = mais verdade), do mesmo modo que a acção é prova de uma culpa que devemos assumir (Portugal recebe, ou recebia, mal os estrangeiros).
O mais desconcertante é que parece haver aqui uma vontade de realismo que tende para uma ostentação formal bizarra, dir-se-ia de ficção científica. Como se se tratasse apenas de confirmar uma "mensagem" mecanicista, em boa verdade decidida desde o arranque do filme. Além do mais, nunca, em nenhum momento, qualquer outro elemento do elenco consegue disfarçar a sua inoperância dramática face à presença das duas actrizes principais.