domingo, março 27, 2011

Shakespeare segundo Tchaikovsky


Gustavo Dudamel reencontra-se com a música de Tchaikovsky, frente à Simón Bolívar, num disco pelo qual passam ecos de uma profunda admiração do compositor russo pela obra de Shakespeare.

Tchaikovsky (1840-1893) era um ávido leitor e frequente visitante das salas de teatro. E data do seu tempo de vida o momento em que a obra de William Shakespeare ganhou expressão nos palcos russos. Assistiu portanto a diversas produções e quando viajava ia frequentemente acompanhado por livros com algumas das peças do autor inglês. E pouco depois de ter iniciado a sua vida profissional como compositor, viu-lhe ser proposto o desafio de compor uma peça orquestral em torno de Romeu e Julieta... Essa abertura, de um lirismo tocante, é uma das três obras que Gustavo Dudamel agrupa neste seu novo disco com a Simón Bolívar (a orquestra venezuelana que o deu a conhecer ao mundo e com a qual já gravara a Sinfonia nº 5 do compositor russo). Compreendendo uma certa visão de época que Tchaikovsky sublinhara nas suas leituras das palavras de Shakespeare, uma intensidade dramática maior cruzando depois Hamlet e uma não menos pungente orquestração atravessando ainda A Tempestade. E, como explica Simon Callow no texto que acompanha o disco, “nas suas obras shakespeareanas puramente orquestrais, [Tchaikovski] responde apaixonadamente aos elementos das peças que o inspiraram”, acrescentando que cada uma das três obras aqui gravadas é “memorável”, que são “profundamente sentidas” e “acrescentam algo à forma de entendermos” as peças nas quais se baseiam. O disco junta gravações efectuadas no Centro de Acción Soicial por La Musica, em Caracas. E sublinha tanto o fulgor romântico que trespassa esta música como o dramatismo que Tchaikovsky tão bem soube ler na escrita de Shakespeare.