domingo, março 06, 2011
Para descobrir Dustin O'Halloran
Lumiere assinala a estreia do pianista e compositor norte-americano Dustin O’Halloran no catálogo da FatCat. Um disco que ora traduz o que começa a ser uma relação com o mundo do cinema e ecos de escolas minimalistas.
Entre os universos da música para o cinema e um espaço discográfico onde procura alargar mais ainda os horizontes da sua personalidade, Dustin O’Halloran (n. 1971) é nome do nosso tempo a descobrir. Colaborou nas bandas sonoras de Marie Antoinette, de Sofia Coppola e An American Affair, de William Olsson, e entre 2004 e 2006 lançou dois álbuns de peças para piano. Lumiere é o seu novo disco em nome próprio e, se por um lado revela a assimilação de ecos de uma linguagem que (através do cinema) revela um interesse por noções de espaço e, até mesmo, cenografia, por outro procura, mais que servir uma narrativa, a expressão de uma busca por um rumo. Na verdade, talvez faça mais sentido falar em rumos, várias que são as rotas e destinos que aqui se sugerem, algumas indiciando caminhos que merecem mais profunda exploração posterior (como, sobretudo, se sente em A Great Divide, onde traços de paisagens frias e desoladas servem de palco a uma música que concilia ecos de escolas clássicas com a carga cénica de texturas electrónicas). O tutano do álbum transpira depois a presença de uma série de genéticas, do minimalismo melodista de um Wim Mertens (em Opus 44 ou We Move Lightly) ao lirismo dominado pelas cordas de um Michael Nyman (Quartet No. 2), juntando ainda expressões do que parece ser uma admiração pela música de Arvo Pärt (que ora se manifesta no diálogo para cordas de Quintette N. 1 ou no arrebatador paisagismo gélido de Snow + Light onde as notas se cruzam no limiar dos silêncios). Com a colaboração do ensemble ACME, de nomes como os de Max Richter ou Peter Broderick e a ajuda de Johan Johansson (na etapa de mistura), Lumiere nasceu de três anos de experiências e gravações, com pólos de trabalho definidos entre espaços urbanos por Nova Iorque e Berlim e paisagens rurais de Itália. Está ainda longe de ser a obra de afirmação de um autor com linguagem demarcada. Mas revela pistas que podem dar-nos boas notícias um dia destes.
Imagens de um vídeo criado por Christina Vantzou para acompanhar Fragile N. 4, uma das composições registadas em Lumiere.