Na avalancha de (des)informação em que vivemos, não dei conta, mea culpa, da notícia da morte de Jean-Paul Dollé: o filósofo francês faleceu no passado dia 2 de Fevereiro, contava 71 anos.
[Notícia no jornal Le Monde].
[Notícia no jornal Le Monde].
Autor de Le Désir de Révolution (1970), o seu nome ficou para sempre ligado às convulsões intelectuais de Maio 68, em particular aos "Novos Filósofos", a par de André Glucksmann, Bernard-Henri Lévy ou Alain Finkielkraut, e ao seu trabalho de interrogação drástica das raízes do marxismo.
[Sobre o seu livro Haine de La Pensée: artigo de Levy publicado no Nouvel Observateur, em Outubro de 1976].
Em todo o caso, Dollé seguiria uma trajectória muito própria, emergindo no seu pensamento o conceito de cidadania como elemento fulcral para uma refundação e reinvenção arquitectónica, quer dizer, necessariamente política do próprio espaço e, de modo muito concreto, da arte de vivermos uns com os outros.
[Sobre o seu livro L'Inhabitable Capital: Crise Mondial et Expropriation, editado em 2010: uma conversa na rádio France Culture].
Professor, desde 1969, da Escola de Arquitectura de Paris-la Villette, Dollé deixou, assim, uma herança de resistência às ilusões "comunitárias" da sociedade mediática ou, como escreveu Paul Virilio, um apego à liberdade de expressão que insiste em não abdicar do valor complementar, essencial, da liberdade de interpretação.
[Evocação de Virilio: Mon ami Jean-Paul Dollé...].
No seu livro Le Territoire du Rien (2005), escreveu:
>>> O nosso tempo é um tempo de uma corrida constante em direcção a um novo sempre apropriado por um presente que se apaga no próprio momento em que se apresenta.
>>> Fragmentos de uma conferência, "O habitável e o inabitável", proferida por Jean-Pierre Dollé na Ordem dos Arquitectos da Provence-Alpes-Côte d'Azur — 4 de Fevereiro de 2010.