domingo, fevereiro 20, 2011

Uma integral em construção


O maestro russo Vasily Petrenko continua a sua aventura através da obra sinfónica de Shostakovich com a Liverpool Philarmonic Orchestra. Mais um volume através da Naxos, desta vez apresentando uma absolutamente fabulosa gravação da Sinfonia Nº 10. Aos poucos vamos assim assistindo à construção de uma integral da obra sinfónica do compositor russo que promete, quando concluída, tornar-se num caso de referência.

Depois de um período de intensa criação sinfónica (do qual resultara uma série de obras muitas vezes apontadas como as sinfonias dos anos da guerra), Shostakovich percorreu um intervalo de tempo sobretudo entregue quer à criação de obras “oficiais” (essencialmente bandas sonoras para filmes, cantatas e oratórios) quer à escrita de peças mais pessoais, compostas sem uma agenda de estreia ou eventual publicação (entre ciclos de canções, peças para piano ou quartetos de cordas). Nos oito anos que separam a Sinfonia Nº 9 da décima, o compositor estreou o Concerto para Violino nº 1 (1948), sinfónico na sua escala, mas não uma sinfonia. Quando finalmente a concluiu e apresentou, em 1953, poucos meses depois da morte de Estaline, a obra revelou um sentido de liberdade talvez inesperado, não apresentando um “programa” temático, contrastando assim com a noção de realismo que conduzia muita da arte soviética. Na verdade a Sinfonia Nº 10 propunha antes uma visão abstracta, pelos seus quatro andamentos caminhando contudo espaços de sombra e luz, dos contrastes nascendo uma música arrebatadora e desafiante. É uma das obras-primas de Shostakovich e tem, nesta gravação, mais um exemplo da mestria com que o maestro russo tem feito da Filarmónica de Liverpool um caso de rara empatia com a música do compositor.