Na comoção do rosto de Lesley Manville (espantosa actriz!), observamos a peculiar energia do cinema de Mike Leigh: carnal, obsessivamente atento às convulsões do quotidiano, expondo os seres humanos para além das tipologias sociais ou dramáticas. A par de outros profissionais brilhantes, como Jim Broadbent e Ruth Sheen, Manville é uma das presenças de Um Ano Mais/Another Year, nova crónica intimista de Leigh, centrada num casal (Broadbent/Sheen) que existe como uma espécie de reduto afectivo para as mais variadas personagens à deriva no interior da sua própria história. O realismo britânico é, afinal, este misto de observação humana e arte narrativa, próximo da vontade de objectividade da televisão, mas recusando sempre a sua demagogia de símbolos e estereotipos.
Sem grande presença nos Oscars — tem "apenas" uma nomeação para melhor argumento original (do próprio Leigh) — Um Ano Mais corre o risco de ser afogado pelo marketing da contabilidade de quem tem "muitas" ou "poucas" nomeações. Seria uma pena que, também neste caso, não olhássemos à nossa volta.