domingo, janeiro 23, 2011

As quatro estações (americanas)

Editado pela Orange Mountain Music, em gravação pela London Philharmonic Orchestra, dirigida por Marin Alsop, eis que chega a disco o segundo concerto para violino de Philip Glass. Como solista surge aqui Robert McDuffle.

Foi sob um desafio de encontrar uma projecção americana (ou ecos) das Quatro Estações de Vivaldi que Philip Glass compôs o seu Concerto Para Violino Nº 2, que tem por sub-título The American Four Seasons. Terminado (e estreado) em 2009, o concerto resulta da materialização de anos de trocas de ideias entre o compositor e o vilolinista Robert McDuffle (a quem é dedicado e que não só o estreou como aqui agora o grava). Como recorda Philip Glass no texto que inclui nesta edição, foi do violinista que partiu a proposta de criação de uma obra companheira para as Quatro Estações de Vivaldi. Sem reconhecer a início quais seriam as possíveis ligações a estabelecer entre a obra de Vivaldi e a sua música, Glass fez o que sempre faz: lançou-se ao trabalho. A forma final do concerto revela uma obra em quatro andamentos, separados por três “canções”, antecedidos por um prólogo. São assim quatro as estações, tantas quanto as de Vivaldi (e as do ano). Mas aqui Glass não aplicou um programa que as caracterizasse, aos músicos (e também aos ouvintes) cabendo a liberdade de cada uma projectar a "estação" que quiser na “estação” que entender, a quantidade de permutações possíveis alargando matematicamente o leque de interpretações possíveis do concerto. A ideia de liberdade que Glass define nesta sua visão “americana” de uma música que passa por quatro estações abarca ainda o prelúdio e canções, que, como explica ainda o compositor, podem ganhar vida fora do quadro do próprio concerto. Sob a esclarecida batuta de Marin Alsop, que se tem afirmado como uma das mais interessantes figuras de proa na divulgação da música americana (gravou já obras de nomes como Barber, Bernstein, Adams, Copland, Daugherty e do próprio Glass), a London Philharmonic Orchestra dá vida a uma das mais cativantes das obras recentes de Philip Glass. Agora cada um que escolha que estação corresponde a cada andamento...



Imagens, captadas em Londres, de ensaios deste concerto. A maestrina e o violinista reflectem também aqui sobre esta obra de Philip Glass.