quinta-feira, novembro 11, 2010

"A Rede Social" ou os sete pecados virtuais


A Rede Social é um filme capaz de suscitar reflexões sobre a dinâmica da política, e tanto mais quanto tal dinâmica remete para os silêncios da economia. Tudo isso, claro, sem esquecer o fulgor de David Fincher no interior da máquina de Hollywood — este texto foi publicado no Diário de Notícias (3 de Novembro).

Não que David Fincher tenha feito uma sequela do seu Seven – Sete Pecados Mortais (1995). Mas A Rede Social pode ser visto como um conjunto de variações virtuais sobre as mais pecaminosas fraquezas do género humano: luxúria, inveja, avareza... podemos encontrar de tudo um pouco na história cruel da solidão de Mark Zuckerberg, centrada na invenção de uma teia de comunicações em que o “conteúdo” daquilo que se comunica pode ser secundário, ou mesmo irrelevante, face ao simples facto de existir... um canal de comunicação. O meio é a mensagem, hélas!
É isso que faz de A Rede Social, não um retrato mais ou menos pitoresco de um grupo de estudantes universitários viciados em computadores, mas um clássico instantâneo, capaz de definir a complexidade de um tempo (o nosso) em que a noção de rede, mas também a própria palavra “social”, perderam qualquer ligação com um lugar, uma casa, um país: somos seres sociais porque temos um “amigo” à distância de um click!
A proeza é tanto mais extraordinária quanto Fincher consegue mostrar como a idade da Internet é também um tempo novo de circulação das palavras. Na cena de abertura, o comovente Zuckerberg parece mesmo uma máquina angustiada pela velocidade com que debita as suas palavras. Porque é que quanto mais depressa falamos, mais dificuldade temos em acompanhar a pressa do outro? Talvez porque temos medo de todos os silêncios. A Rede Social é, afinal, uma nova variação sobre o mundo dos Peanuts: num caso como noutro, já não há personagens paternas. Nos Peanuts, era ainda possível filosofar. Na história de Fincher, os desejos afogam-se em biliões de dólares. Por uma vez, alguém teve a coragem de filmar uma verdadeira tragédia moral.