domingo, setembro 12, 2010

Carlos Cruz nas televisões — com que critérios?

PAUL KLEE
Pequeno Castelo no Ar
1915

Na sequência das condenações do caso Casa Pia, a hiper-exposição televisiva de Carlos Cruz suscitou algumas importantes reacções:
1) - a Entidade Reguladora para a Comunicação Social veio questionar a "procura de audiências a qualquer custo";
2) - o Provedor do Telespectador da RTP deu conta dos receios de algum "tratamento preferencial" (suscitando uma tomada de posição do director de informação da RTP, considerando que é necessário debater a "administração da justiça);
3) - enfim, o próprio Conselho de Administração da RTP manifestou a sua discordância em relação aos "critérios" com que a RTP tem noticiado a sentença do processo Casa Pia.
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São ocorrências que podem gerar um imenso equívoco que, mais do que nunca, importa combater: o de transformar a RTP em bode expiatório de todos os problemas deontológicos e comunicacionais — numa palavra, de linguagem — que afectam o jornalismo televisivo português. Estamos, afinal, a tentar pensar problemas que, mais do que nunca, se tornaram transversais.
Seja como for, as tomadas de posição das entidades citadas são exemplares — tanto do ponto de vista televisivo como, genericamente, em termos sociais. Ou ainda: tentam combater a ilusão pueril segundo a qual a televisão pode ser reduzida a uma montra virginal do mundo à sua/nossa volta.
Aliás, o grande desafio político e simbólico que está em jogo decorre disso mesmo: consiste em sabermos reconhecer que esse mundo deixou de existir como algo que a televisão se limita a "noticiar" — esse é mesmo um mundo que, da organização das relações humanas à circulação das ideias, passou a funcionar através da televisão, sancionado pela televisão e, não poucas vezes, integra discursos gerados para a televisão.