quinta-feira, setembro 09, 2010

Quantas vezes Carlos Cruz irá às televisões?

HENRY FUSELI
Trompe l'Oeil
1750

I. [Nota escrita ao princípio da tarde do dia 9 de Setembro] No programa Prós & Contras (RTP1, 6 de Setembro), Carlos Cruz manifestou a sua vontade de ter um confronto televisivo com uma das vítimas do caso Casa Pia. Estranhamente — e isso diz bem do sonambulismo democrático em que vivemos —, ninguém lhe chamou a atenção para o óbvio: mesmo admitindo que ele é totalmente alheio aos crimes pelos quais foi condenado (o que, para a questão que aqui se aborda, é liminarmente irrelevante), existem tribunais para dirimir as respectivas incidências e o espaço televisivo não é um dispositivo que possa substituir, em nenhum momento, em nenhuma função, esses mesmos tribunais.

II. Vale a pena perguntar, por isso mesmo, até quando as televisões vão sustentar o "folhetim Carlos Cruz" em que estão globalmente empenhadas? Vale a pena, sobretudo, voltar a sublinhar uma tragédia conjuntural que, pelos vistos, a esmagadora maioria dos jornalistas televisivos não quer enfrentar: a informação televisiva tende a assumir-se como uma entidade social que prolonga, ad infinitum, as hipóteses de conflito, onde quer que elas se manifestem.

III. Na prática, as televisões agem como se tivessem a vocação — alguns aplicarão o eufemismo das "boas consciências": a obrigação social — de ocuparem o lugar (e consumar os gestos) de toda e qualquer instituição. Daí a pergunta que se renova: de onde vem esse desejo?