Realizador de alguns filmes emblemáticos dos anos 60 made in USA — O Milagre de Ann Sullivan (1962), Mickey One (1964), Perseguição Impiedosa (1965), Bonnie e Clyde (1967) e O Restaurante de Alice (1969) —, Arthur Penn faleceu em Manhattan, no dia 28 de Setembro — na véspera, completara 88 anos.
Em poucos meses, desaparecem, assim, duas das personalidades mais importantes para as grandes transformações temáticas e estéticas do cinema americano da década de 60: a primeira foi Dede Allen, figura central na evolução da montagem; aliás, Penn contou com a colaboração de Allen em vários dos seus filmes, incluindo Bonnie e Clyde e O Pequeno Grande Homem (1970).
Ligado ao teatro, Penn foi também um elemento de destaque de toda uma geração (John Frankenheimer, Sydney Pollack, etc.) cuja formação profissional passou por uma idade muito criativa da ficção televisiva. Componente fundamental dessa geração foi o empenho em voltar a assumir os grandes géneros clássicos, discutindo as suas linguagens e bases ideológicas. A sua primeira longa-metragem, The Left Handed Gun/Vício de Matar (1958) é, nesse aspecto, modelar: um western que revê a mitologia clássica de Billy the Kid, injectando-lhe uma subtil dimensão psicanalítica, inseparável da notável composição de Paul Newman, claramente ligada aos valores de representação do Actors Studio. Aliás, o western seria um género a pontuar regularmente a evolução de Penn, através de títulos como o já citado O Pequeno Grande Homem (uma espécie de reconversão delirante e sarcástica da expansão para Oeste, centrada numa multifacetada interpretação de Dustin Hoffman), ou ainda Duelo no Missouri (1976), com Marlon Brando e Jack Nicholson.
A partir do começo da década de 80, o labor de Penn reduz-se e torna-se irregular, incluindo alguns telefilmes. O seu último grande filme — e, por certo, uma das obras-primas americanas sobre os êxtases e ilusões dos anos 60 — surgiu em 1981: chama-se Quatro Amigos e retrata a passagem à idade adulta de quatro jovens, no ambiente de uma pequena cidade industrial, simbólica de toda uma imensa América, interior e desconhecida.
>>> Este é um video do American Film Institute: Arthur Penn explica como Warren Beatty o convenceu a dirigir Bonnie e Clyde e, depois, como veio a encarar a história dos dois bandidos como um reflexo exemplar da história mais geral de uma América em recessão económica.
>>> Obituário no New York Times.
>>> Arthur Penn no Harvard Film Archive.