domingo, agosto 01, 2010

Música coral para o século XXI

Um compositor do século XXI. É assim que podemos começar por apresentar o norte-americano Eric Whitacre (n. 1970), autor sobretudo de música coral cuja obra começa a ganhar grande visibilidade, quer através das formas mais “clássicas” de trabalho (ou seja, dos palcos dos concertos aos discos), quer explorando ferramentas de comunicação do nosso tempo (a Internet, em concreto o “coro virtual” que criou no YouTube). No ano em que acaba de assinar um acordo de exclusividade (como intérprete) com a Decca Classics, prometendo um primeiro disco – com o título Light & Gold – para o mês de Outubro, acaba de ver uma série de obras corais gravada pela Naxos neste Choral Music, contando com o coro Elora Festival Singers (de Toronto), dirigido por Noel Edison, ocasionalmente chamando a cena o pianista Leslie De’Ath e a percussionista Carol Bauman.

Natural de Reno, no Nevada, Eric Whitcare iniciou os seus estudos na universidade local, completando-os mais tarde na Julliard School, onde teve entre os professores a figura de John Corigliano. Em disco estreou-se em 1997, a sua discografia até ao momento tendo em Cloudburst (Hyperion, 2006) o seu maior triunfo, valendo-lhe não apenas vendas monumentais, como inclusivamente a nomeação para um Grammy. Choral Music recolhe uma série de pequenas peças de música coral, cada qual nascendo da relação com as palavras de um poema. “Como copositor de música coral a minha primeira responsabilidade é para com o poema”, começa por explicar numa nota que inclui no booklet. Revela então que, quando aborda um poema, começa primeiro por tentar compreender o seu sentido. E, depois, procura, como literalmente justifical silenciar-se a si mesmo, “em busca das notas que estão já escondidas entre as palavras do poeta”. Nesta edição da Naxos, entre os dez poemas que transformou em obras de música coral encontramos palavras assinadas por nomes como Octavio Paz ou e.e. cummings).

É frequente vermos os nomes de Arvo Pärt ou John Tavener (ambos com importante relação com a música coral nas respectivas obras) apontados como primeiras referências para localizar os caminhos pelos quais segue a música de Eric Whitacre (e a contracapa desta edição da Naxos não é excepção). Há algumas afinidades, é certo. Tal como em alguma da música de Pärt, Whitcare revela um focar dos intreresses na exploração da sonoridade e, consequentemente, numa ideia de experiência da música como um todo para o ouvinte , secundarizando contudo outros elementos. Como explica Tim Sharp no booklet, a melodia, “âncora convencional para a maioria das composições” não é “um tópico em consideração nesta música”. A sonoridade é encontrada na soma das vozes presentes, das suas diferenças (do timbre à entoação) acabando por ganhar forma uma música que, feita de discretas texturas, acaba assim, por fazer da reunião das mais pequenas subtiliezas a sua força.



Imagens de uma interpretação de Lux Aurumque, uma das obras que ouvimos neste novo disco, contudo aqui numa interpretação pelo coro virtual que o compositor criou no YouTube. São 200 vozes, cada uma gravada em sua casa, frente ao computador, aqui virtualmente arrumadas num ensemble maior.