Como é que as televisões constroem a imagem de uma personalidade? Mais do que isso: porque é que as personalidades políticas estão muito mais sujeitas ao desgaste que as de outras áreas, nomeadamente do futebol? — este texto foi publicado no Diário de Notícias (30 de Julho), com o título 'Os humores de Jorge Jesus'.
Jorge Jesus anda agastado com as perguntas que lhe fazem nas conferências de imprensa (nomeadamente sobre as fracas performances de Roberto, novo guarda-redes do Benfica), respondendo com uma irritação mesclada de indiferença e soberba. Ora, mesmo considerando que o estilo televisivo do treinador não é muito interessante, não tenho gosto particular em favorecer especulações morais a pretexto dos seus humores. Aliás, tendo em conta o simplismo provocatório de muitas daquelas perguntas, só me posso sentir solidário com a parte de revolta que a sua atitude revela.
A questão é outra. E tem a ver com as desigualdades de tratamento a que são sujeitos os protagonistas na nossa paisagem televisiva, ou seja, os profissionais do futebol e da política. Imagine-se o que aconteceria se algum dos nossos políticos, de qualquer área ideológica, passasse a tratar os jornalistas com aquela sobranceria e o tom de enfado de quem não está para aturar brincadeiras... É fácil imaginar: seria metodicamente trucidado como um ser ridículo e desprezível.
Se o leitor deduziu que estou a defender que Jorge Jesus seja (televisivamente) queimado na praça pública, não leve a mal, mas creio que está a ser condicionado pelos próprios chavões do jornalismo que, aqui, tento questionar. Acontece apenas que esse mesmo jornalismo aplica de forma desigual o seu olhar sobre os protagonistas que elege para a maior parte dos seus espaços. Daí a conclusão óbvia: para pensarmos o poder cultural do futebol, tanto quanto a muito abalada imagem do labor político, teremos que questionar os valores dominantes do jornalismo televisivo. Será que os principais actores do futebol e da política têm alguma coisa a dizer sobre o assunto?
Jorge Jesus anda agastado com as perguntas que lhe fazem nas conferências de imprensa (nomeadamente sobre as fracas performances de Roberto, novo guarda-redes do Benfica), respondendo com uma irritação mesclada de indiferença e soberba. Ora, mesmo considerando que o estilo televisivo do treinador não é muito interessante, não tenho gosto particular em favorecer especulações morais a pretexto dos seus humores. Aliás, tendo em conta o simplismo provocatório de muitas daquelas perguntas, só me posso sentir solidário com a parte de revolta que a sua atitude revela.
A questão é outra. E tem a ver com as desigualdades de tratamento a que são sujeitos os protagonistas na nossa paisagem televisiva, ou seja, os profissionais do futebol e da política. Imagine-se o que aconteceria se algum dos nossos políticos, de qualquer área ideológica, passasse a tratar os jornalistas com aquela sobranceria e o tom de enfado de quem não está para aturar brincadeiras... É fácil imaginar: seria metodicamente trucidado como um ser ridículo e desprezível.
Se o leitor deduziu que estou a defender que Jorge Jesus seja (televisivamente) queimado na praça pública, não leve a mal, mas creio que está a ser condicionado pelos próprios chavões do jornalismo que, aqui, tento questionar. Acontece apenas que esse mesmo jornalismo aplica de forma desigual o seu olhar sobre os protagonistas que elege para a maior parte dos seus espaços. Daí a conclusão óbvia: para pensarmos o poder cultural do futebol, tanto quanto a muito abalada imagem do labor político, teremos que questionar os valores dominantes do jornalismo televisivo. Será que os principais actores do futebol e da política têm alguma coisa a dizer sobre o assunto?