terça-feira, agosto 03, 2010

Mitch Miller (1911-2010)

Foto: AP

Morreu, aos 99 anos, Mitch Miller, editor discográfico, produtor e músico, um dos nomes de maior sucesso na história da música popular norte-americana, sobretudo nos anos 50. Apesar de não haver (até este momento) referências nos sites “de referência” que falam da música de hoje, Mitch Miller foi numa figura marcante no seu tempo e deixou duas importantes contribuições para a história da música como hoje a conhecemos. Por um lado foi um dos primeiros a vincar a importância do protagonismo do produtor no espaço do estúdio de gravação. Por outro, e através de um dispositivo que usava frequentemente nos seus programas na televisão, anteveu o modelo daquilo a que mais tarde se veio a designaar por karaoke.

Não era cool. Antes pelo contrário! Não foi um esteta revolucionário, e a sua música optou sempre pela segurança “amiga do mercado” de uma obra para consumo popular pouco exigente. Mas reduzir Mitch Miller ao silêncio é, no mínimo, sinal de um revisionismo (ou será apenas ignorância?) que parece esquecer toda a história da música popular dos anos 50 e 60 que não passou pelos estúdios da Sun Records, da Stax, da Atlantic ou por Abbey Road. Não aprovava o rock’n’roll nem as novas formas de expressão que começaram a ganhar forma em meados dos anos 50 e se expandiram nos anos 60. E essa foi uma das suas maiores falhas de visão… Mas, e talvez até mais que o legado como editor discográfico, o seu trabalho em estúdio (ao gosto de uns, nem tanto por outros), o saber usar pequenos truques técnicos, não deixa de o inscrever na história da música gravada. Afinal é a história apenas o eco daquilo de que gostámos (ou que definiu trilhos para aquilo que hoje apreciamos), ou é antes um conjunto de reflexões e relatos sobre o que de facto sucedeu?


Filho de uma família com ascendência russa, Mitch Miller nasceu em Rochester (estado de Nova Iorque) em 1911. Apredeu a tocar oboe porque era o lugar disponível na orquestra da escola quando nela se inscreveu. Tocou mais tarde na Orquestra Filarmónica local e chegou mesmo a acompanhar nomes como Charlie Parker e George Gershwin.

A sua carreira mudou quando passou para o outro lado dos discos. O da edição. Começou, em finais dos anos 40, como A&R na Mercury. E, mais tarde foi, durante longos anos, chefiou os destinos da Columbia Records, definindo inclusivamente uma personalidade “pop” (ao jeito da época, claro) no catálogo através da assinatura de nomes como os de Patti Page, Frankie Lane, Ray Coniff, Johnny Mathis ou Tony Benett , mantendo na “casa” figuras como Doris Day ou Dinah Shore. Entre os anos 50 e 60 gravou ainda uma série de discos de versões na série “Sing Along With Mitch” que se revelaram sucessivos êxitos nos EUA e lhe abriram a porta a um programa na televisão, que se manteve no ar de 1961 a 1964, ano em que o gosto pop(ular) americano começou a mudar no sentido de uma nova pop...



Mitch Miller num dos seus programas televisivos. A pose é decididamente ‘uncool’. As versões parecem tiradas segundo uma régua de cálculo que reduz o diferente a igual, esbatendo a diferença e normalizando-a… O perfeito oposto do que procuramos quano pensamos na música como uma arte que procura representar o seu tempo e inventar o que se segue. Mitch Miller não seguiu de todo essa filosofia.

PS. Alguém duvida que, lá para o ano 2075, muitos dos nomes de proa da popularidade pop msinstream do presente, que vende discos às pazadas (e nem vale a pena citar nomes), serão memória tão (ou mais) esquecida que a de Mitch Miller em 2010?


O “clássico” de Cole Porter Don’t Fence Me In no modelo Singalong america de Mitch Miller, o tal que antecede formas de apresentação da música algo semelhantes às que, entretanto, evoluiram no sentido de definir o que hoje conhecemos como karaoke.