segunda-feira, agosto 02, 2010

A América de Joseph O'Neill

"I recall, also, trying to shrug off a sharp new sadness that I'm now able to indentify without tentativeness, which is to say, the sadness produced when the mirroring world no longer offers a surface in which one may recognize one's true likeness."

Netherland é o retrato de um holandês, Hans van den Brock, analista financeiro a viver no Chelsea Hotel, em Nova Iorque, com a mulher e o filho. A sua velha paixão pelo cricket vai ser relançada através do conhecimento de Chuck Ramkissoon, originário da ilha de Trinidad, personagem de um mundo "alternativo", feito do cruzamento de muitas nações e identidades, que Hans ignora...
Resumido assim, o livro de Joseph O'Neill poderá parecer uma teia de retratos mais ou menos pitorescos, porventura satisfazendo os clichés (também literários) da "globalização". Afinal de contas, o autor nasceu em Cork, na Irlanda (em 1964), é de ascendência irlandesa e turca, cresceu na Holanda, foi educado em Inglaterra e tem vivido em Nova Iorque (no Chelsea Hotel!...). Mas nada disso pode dar conta da riqueza de escrita e da complexidade emocional do empreendimento: Netherland (edição original: Random House) é uma espantosa viagem através de uma Nova Iorque assombrada pelas memórias próximas do 11 de Setembro, memórias que, mesmo no seu magoado silêncio, vão questionando todas as ilusões de identidade e pertença.
Em 2009, Netherland foi um dos candidatos ao Booker Prize, tendo ganho o Pen/Faulkner Award — alguns críticos americanos evocaram a herança de F. Scott Fitzgerald a propósito da escrita de O'Neill e o caso não é para menos.

JOSEPH O'NEILL fotografado por Adam Nadel / The Daily Telegraph