terça-feira, agosto 17, 2010
Espiões (como nós)
Estreou recentemente entre nós o filme O Caso Farewell, uma recriação para o grande ecrã de um “caso” real vivido em inícios dos oitentas, nos últimos tempos da “guerra fria”. Na essência acompanhamos o jogo de bastidores entre as ruas de Moscovo e instituições oficiais em Paris e Washington que acabaria por resultar numa das maiores operações de desmontagem da rede de espionagem tecnológica no Ocidente.
Realizado por Christian Carion, com Guillaume Cantet e um surpreendente Emir Kusturica nos papéis principais, O Caso Farewell aborda a antiga tradição das histórias de espionagem, abdicando contudo das vitaminas de acção em favor de um olhar mais próximo do terreno humano dos envolvidos, da família do agente da KGB que resolve passar os documentos para o “outro lado” ao quotidiano do funcionário francês que, sem experiência nem treino nas ginásticas da espionagem, acaba por se transformar num valioso correio. A dimensão vivencial que partilha assim o tutano da narrativa com as informações que vão saindo para o Ocidente faz a diferença num filme que prefere oserva a ansiedade das esperas, as incertezas do dia a dia de quem sabe que vive fora da sua zona de segurança. Pena apenas que as cenas “oficiais”, ou seja, as vividas entre o Eliseu e a Casa Branca não estejam nunca ao nível das que cruzam espaços em Moscovo, o retrato algo caricatural de Reagan destoando inclusivamente do registo que domina o filme…
Imagens do trailer do filme ‘O Caso Farewell’