Michael Jackson morreu a 25 de Junho de 2009. Um ano depois, que herança fica? Do que nos lembramos? E, sobretudo: como lembramos? — este texto foi publicado no Diário de Notícias (24 de Junho), com o título 'A morte fica-lhe tão bem'.
É bem verdade que, muito por culpa da miséria televisiva que nos rodeia, passámos a comemorar efemérides por tudo e por nada. Como se a celebração automática das datas nos pusesse em contacto com uma essência intocada pelas atribulações do tempo que passa. Afinal de contas, essa “transcendência” pitoresca faz parte da paisagem quotidiana e as festas impostas pelo calendário cumprem a missão piedosa de nos alhear de uma das nossas maiores tragédias existenciais: a de vivermos numa cultura que promove a proliferação festiva de memórias, mas favorece a indiferenciação do esquecimento.
Há, por isso, uma ironia inevitável (e inevitavelmente saborosa) quando nos mobilizamos para assinalar... o primeiro ano da morte de Michael Jackson! E é pena que os detractores oficiais tenham desaparecido de cena, infelizmente confirmando a pacata mediocridade dos seus pontos de vista sobre o criador de Thriller. De facto, os muitos discursos moralistas (se é que o puro insulto tem alguma moral) sobre a identidade “falsa” de Jackson, nomeadamente sobre a cor da sua pele, nunca conseguiram entender que a vulnerabilidade física e simbólica foi uma componente essencial do seu labor.
Há ainda outra maneira de dizer isso mesmo: Jackson é um dos criadores contemporâneos por cuja obra perpassa uma energia vital que, numa lógica de perversas contaminações, não se opõe à nitidez branca da morte (e que a brancura se confunda, aqui, com a nitidez, eis o que, por certo, é esclarecedor sobre este nosso lugar em que o evocamos). No limite, a morte não passa de um gimmick das paisagens criativas de Jackson, um abismo sem nome alegremente convocado em nome do espectáculo e dos seus valores comunitários. Há muitas décadas que isso tem um nome: cultura pop. E como ele fez questão em cantar, pode ser preta ou branca. É igual.
É bem verdade que, muito por culpa da miséria televisiva que nos rodeia, passámos a comemorar efemérides por tudo e por nada. Como se a celebração automática das datas nos pusesse em contacto com uma essência intocada pelas atribulações do tempo que passa. Afinal de contas, essa “transcendência” pitoresca faz parte da paisagem quotidiana e as festas impostas pelo calendário cumprem a missão piedosa de nos alhear de uma das nossas maiores tragédias existenciais: a de vivermos numa cultura que promove a proliferação festiva de memórias, mas favorece a indiferenciação do esquecimento.
Há, por isso, uma ironia inevitável (e inevitavelmente saborosa) quando nos mobilizamos para assinalar... o primeiro ano da morte de Michael Jackson! E é pena que os detractores oficiais tenham desaparecido de cena, infelizmente confirmando a pacata mediocridade dos seus pontos de vista sobre o criador de Thriller. De facto, os muitos discursos moralistas (se é que o puro insulto tem alguma moral) sobre a identidade “falsa” de Jackson, nomeadamente sobre a cor da sua pele, nunca conseguiram entender que a vulnerabilidade física e simbólica foi uma componente essencial do seu labor.
Há ainda outra maneira de dizer isso mesmo: Jackson é um dos criadores contemporâneos por cuja obra perpassa uma energia vital que, numa lógica de perversas contaminações, não se opõe à nitidez branca da morte (e que a brancura se confunda, aqui, com a nitidez, eis o que, por certo, é esclarecedor sobre este nosso lugar em que o evocamos). No limite, a morte não passa de um gimmick das paisagens criativas de Jackson, um abismo sem nome alegremente convocado em nome do espectáculo e dos seus valores comunitários. Há muitas décadas que isso tem um nome: cultura pop. E como ele fez questão em cantar, pode ser preta ou branca. É igual.