Reproduzir as cores do mundo exactamente como elas são, mostrar que o realismo é a arte de expor o modo como não vemos as coisas que julgamos ver: Deserto Vermelho — foi em 1964. Com a cumplicidade do director de fotografia Carlo Di Palma, Michelangelo Antonioni filmava Monica Vitti nos labirintos de uma paisagem híbrida em que as marcas do desenvolvimento industrial eram inseparáveis do silêncio das cores e das suas superfícies. É um daqueles filmes que nos ajuda a perceber que o cinema é uma arte da insatisfação do real, ou melhor, do poder imperial do tema da solidão — agora, em reedição histórica da colecção Criterion.