quarta-feira, junho 09, 2010

Madonna, catolicamente

De vez em quando, convém jogar pelo seguro, ou seja, recolhermo-nos na protecção antiga da tradição, aí onde se jogam todos os desejos de vanguarda. Madonna, por exemplo — desta vez na edição de Maio da Interview. As fotografias, assinadas por Marcus Piggott e Mert Alas, são a demonstração viva de uma evidência carnal: os símbolos do catolicismo, exponenciados ou neutralizados, passam sempre pelo corpo — literalmente, de preferência. A conversa, com Gus Van Sant, exibe aquele tom de fluxo suave, mas contundente, que define o estilo da Interview. Fala-se do Malawi e de Sean Penn, de realizar filmes e fotografar filmes, de fazer música e não ter editora... Uma delícia de didactismo, com temperos de narcisismo q. b., sem cedências ao infantilismo dos tempos — citação:

VAN SANT: Tive a oportunidade de ver Filth and Wisdom [Sujidade e Sabedoria]. É um objecto verdadeiramente íntimo e contido. Fiquei mesmo surpreendido. Não sabia o que esperar.
MADONNA: Sim, sem dúvida, acho que é íntimo. Nunca pensei nele assim. É uma pequena história, afinal. Mas, de facto, se olharmos lá para dentro, é sobre a luta para se ser um artista. No essencial, sinto que as três principais personagens do filme sou eu.
VAN SANT: São?
MADONNA: Ou aspectos de mim, sim. [...]