segunda-feira, junho 28, 2010

"Eu Sou o Amor": três hipóteses (3)

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O filme Eu Sou o Amor, de Luca Guadagnino, situa os impulsos amorosos num quadro dramático — mais exactamente: melodramático — que funciona sempre como um desafio à consistência afectiva e simbólica dos laços de sangue. Daí que possamos formular uma hipótese familiar: não porque a família seja o saldo institucional que sempre redime o indivíduo (já basta da cretinice telenovelesca...), mas porque a teia familiar vive, e sobrevive, como um sistema de laços e contradições que nenhuma barreira consegue conter. Nesse sentido, o familiar não é uma paisagem estável, mas sim uma máquina de permanente produção de novas cumplicidades e clivagens, muito para além do que a tradição impõe. No limite, a familiaridade é também uma questão musical ou, se preferirem, que se diz por música. Sinal forte disso mesmo: o título Io Sono l'Amore provém da ária "La Mamma Morta", da ópera Andréa Chenier, de Umberto Giordano, tal como é ouvida — na interpretação de Maria Callas — por Tom Hanks e Denzel Washington numa cena de Filadélfia (1993), de Jonathan Demme, que a certa altura se imiscui na narrativa do filme de Guadagnino — vale a pena recordar a cena.