Em dia de entrega dos Oscares, aqui ficam mais duas escolhas nossas. Hoje nas categorias de Melhor Filme (este ano com dez nomeados) e Melhor Realização.
N.G.: São dez os nomeados para Melhor Filme em 2010, retomando assim a academia uma antiga tradição. Porém, entre os dez falta o título que na verdade mais mereceria a estatueta: a adaptação ao cinema, por Tom Ford, de A Single Man, de Christopher Ishwerwood. A ter de escolher entre o lote dos nomeados, o Oscar deveria ir parar às mãos de Quentin Tarantino pelo verdadeiro cocktail de nonsense gourmet que aplicou a uma visão de história alternativa sobre a II Guerra Mundial em Sacanas sem Lei…
E quem vai ganhar o Oscar? Aqui o “feito” nas bilheteiras de Avatar deverá mesmo falar mais alto…
J.L.: O regresso às 10 nomeações para melhor filme (não acontecia desde 1943, quando ganhou Casablanca) decorre menos dos filmes e mais da... televisão. Ou melhor: face ao descréscimo regular das audiências da cerimónia dos Oscars, em Hollywood prevaleceu a noção segundo a qual era preciso "encaixar" alguns grandes sucessos de bilheteira nos nomeados para garantir mais telespectadores. É uma visão porventura pertinente, mas limitada: genericamente, as "novas" audiências têm muito pouco (ou nenhum) espírito cinéfilo e são estranhas ao imaginário clássico que sustenta os Oscars e as suas componentes artísticas, industriais e até afectivas. Neste contexto, o vencedor "obrigatório" é Avatar, quanto mais não seja porque, em tempos de crise, Hollywood não se pode dar ao luxo de ignorar um filme que, de facto, conseguiu um relançamento comercial do cinema como fenómeno de massas. Premiar Estado de Guerra seria consagrar a dimensão humanista de Hollywood, de John Ford a Sam Peckinpah. Mas quem se lembra de Ford? E quem viu Peckinpah para além de um ou outro fragmento no YouTube? Seja como for, aconteça o que acontecer, é um grande teste simbólico e os Oscars de 2010 podem ficar como um marco na história digital do cinema.