Pérola da música barroca, os Concertos Brandeburgueses, de Bach, foram a matéria essencial de dois concertos na Fundação Gulbenkian (dias 7 e 11), por certo dos mais importantes da corrente temporada. Sob a direcção de Pablo Valetti (violino) e Céline Frisch (cravo), o ensemble Café Zimmerman trouxe-nos esse misto de geometria e alegria de uma música que, escusado será sublinhá-lo, há muito transcendeu qualquer época ou matriz, a ponto de se poder confundir com o valor intrínseco da celebração — com todas as conotações religiosas que a palavra ainda possa conter, sobretudo em tempos tão equivocamente "libertários" como os nossos. Daí que possamos dizer que passou pelo Grande Auditório uma sensação de ritual, simultaneamente severo e lúdico, capaz de nos distanciar da futilidade de qualquer conceito determinista do presente.