No Festival da Canção, Fernando Tordo foi a excepção musical que confirmou a regra do desastre — este texto foi publicado no Diário de Notícias (12 de Fevereiro), com o título 'Os despojos de um festival'.
O panorama do Festival RTP da Canção é demasiado penoso para que seja possível passar à frente apenas com um silêncio pudico. A degradação do certame tem vindo a consagrar uma mediocridade feita de canções abaixo do mais patético voluntarismo amador, para mais apresentadas num registo histérico em que o público é tratado como uma máquina de produzir gritos e mais gritos.
Tudo isto seria apenas uma variação sobre o populismo grosseiro que domina o espaço audiovisual, não se desse o caso de o festival possuir um património que, em termos musicais e até no plano da simbologia política, merece respeito. Não que eu pretenda alimentar esse obsceno saudosismo televisivo que faz com que, no plano musical (e não só...), tudo o que tenha mais de uma dezena de anos seja tratado como uma utopia de harpas e anjos. Nada disso. Mas basta ter escutado Fernando Tordo num intermezzo do festival deste ano para perceber como o que agora se faz não cumpre nem os mínimos olímpicos da seriedade artística.
Tordo veio cantar alguns dos temas que compôs com Ary dos Santos e o mínimo que se pode dizer é que foi profundamente incómodo. Não por ele, entenda-se, que nos deu os únicos momentos da noite em que os nossos ouvidos puderam não se sentir ofendidos. Mas porque o contraste exposto era também o sinal da mais absoluta perda de referências artísticas ou valores de espectáculo que, hoje em dia, comanda tantas formas de fazer televisão.
O panorama do Festival RTP da Canção é demasiado penoso para que seja possível passar à frente apenas com um silêncio pudico. A degradação do certame tem vindo a consagrar uma mediocridade feita de canções abaixo do mais patético voluntarismo amador, para mais apresentadas num registo histérico em que o público é tratado como uma máquina de produzir gritos e mais gritos.
Tudo isto seria apenas uma variação sobre o populismo grosseiro que domina o espaço audiovisual, não se desse o caso de o festival possuir um património que, em termos musicais e até no plano da simbologia política, merece respeito. Não que eu pretenda alimentar esse obsceno saudosismo televisivo que faz com que, no plano musical (e não só...), tudo o que tenha mais de uma dezena de anos seja tratado como uma utopia de harpas e anjos. Nada disso. Mas basta ter escutado Fernando Tordo num intermezzo do festival deste ano para perceber como o que agora se faz não cumpre nem os mínimos olímpicos da seriedade artística.
Tordo veio cantar alguns dos temas que compôs com Ary dos Santos e o mínimo que se pode dizer é que foi profundamente incómodo. Não por ele, entenda-se, que nos deu os únicos momentos da noite em que os nossos ouvidos puderam não se sentir ofendidos. Mas porque o contraste exposto era também o sinal da mais absoluta perda de referências artísticas ou valores de espectáculo que, hoje em dia, comanda tantas formas de fazer televisão.