Ramalho Ortigão (1836-1915) pode ser uma boa referência para resistirmos à "big-brotherização" do país. É essa a sugestão expressa num mail de Patrick Dias da Cunha, evocando o autor de As Farpas a propósito de uma série de posts aqui publicada sobre a divulgação das escutas, o populismo de algumas formas de jornalismo e, em especial, a degradação do espaço público. Agradecendo a intervenção, aqui ficam algumas propostas de reflexão do nosso visitante:
(...) Não foi só a política que se suicidou; o jornalismo também está a cometer um lento hara-kiri. E a responsabilidade não é da Net e dos blogues. Muitas outras indústrias souberam aproveitar rupturas abruptas e mudanças de paradigma para se reinventarem e ganhar novos fôlegos. E a responsabilidade também não é da falta de exigência da audiência, do povo que somos. Já no século XIX, numa das suas “Farpas”, Ramalho Ortigão afirmava que “tudo o que a educação do povo não recebe dos jornais rouba-o o jornal à educação do povo”. O hara-kiri é cometido pelos próprios protagonistas, por aqueles que se movimentam no palco mediático, tanto à frente como atrás das cortinas, pelos actores e pelas marionetas, pelos encenadores e pelos cenógrafos. Quase todos os protagonistas parecem dançar ao som da mesma música.
Contudo, não é esta proliferação da “sinistra lógica de Big Brother” propagada através de um jornalismo cada vez mais rendido ao estilo tablóide que mais me preocupa. O que sobretudo me preocupa é a ausência, na comunicação social, de um único projecto de qualidade, que ouse romper com o status quo e que aposte num regresso aos “valores clássicos do jornalismo”. Quem tem a capacidade económica para investir num projecto dessa natureza não o faz. Por falta de visão, por falta de interesse ou por falta de coragem."
Patrick Dias da Cunha