sexta-feira, fevereiro 12, 2010

A morte da política em Portugal

GOTTFRIED HELNWEIN
Os Últimos Dias de Pompeia II [fotografia reenquadrada]
1987

Numa reportagem televisiva das sessões na Assembleia da República (referente ao dia de ontem), vejo um deputado dirigir-se à bancada do Governo, tomando como pretexto uma manchete de um jornal [sobre o congelamento dos salários da função pública]. Indignado, exige que o Governo desminta a manchete porque, se não o fizer, quer dizer que é verdadeira...
Podemos admitir que o Governo está a mentir. Podemos até superar todas as formas de histerismo mediático e supor que o Governo é um bando de malfeitores e as oposições uma colecção de anjos inocentes. Somos livres de o fazer e, para mais, se for caso disso, sermos felizes. Em todo o caso, a intervenção do deputado (não contestada pela maioria dos outros deputados), resume uma tragédia muito portuguesa: a de reduzir o labor da verdade ao conhecimento das manchetes dos jornais e a de fazer política a partir dessas manchetes.
Podemos, por isso, registar o óbito: em Portugal, a política morreu no dia 11 de Fevereiro de 2010 — por suicídio.