Precious conta a história dramática de uma rapariga do Harlem que tem dois filhos do próprio pai e é maltratada no dia a dia pela mãe — este texto foi publicado no Diário de Notícias (10 de Fevereiro), com o título 'Nova Iorque, realismo e Cassavetes'.
Com seis nomeações para os Oscars (incluindo melhor filme), Precious é um dos grandes fenómenos do ano. E só por manifesto simplismo jornalístico se poderá favorecer a ideia segundo a qual os prémios da Academia vão funcionar como um teste ao impacto comercial das três dimensões (seja o que for que se pense de Avatar). De facto, se continua a existir um espírito genuinamente independente na produção americana, ele está representado em Precious. A visibilidade que o filme adquire nos Oscars, depois de muitas distinções (de festivais, associações de críticos, etc.), significa também que há uma dimensão realista que, embora tendo as suas raízes na tradição independente, permanece viva e viável no imaginário de Hollywood.
Reencontramos, assim, a referência tutelar de John Cassavetes (1929-1989) [foto], uma das personalidades “fundadoras” de uma atitude criativa indissociável da grande metrópole novaiorquina. Mas não se julgue que essa inspiração é apenas estilística e pode ser reduzida a alguns efeitos formalistas. Aquilo que reemerge na realização de Lee Daniels é a função dominante dos actores. As prodigiosas Gabourey Sidibe e Mo’Nique, intérpretes de Precious e Mary (a mãe), são apenas as marcas mais óbvias de uma estética que revaloriza a contemplação das mais discretas ou mais violentas nuances do comportamento humano.
A história de Precious, dos abusos a que é sujeita e da sua resistência à “normalização”, sendo uma contundente crónica social, traduz um relançamento dos modelos clássicos de retrato psicológico. Se nos lembrarmos de filmes como O Estranho Caso de Benjamin Button (2008), poderemos perceber que esse é um factor importante também na produção dos grandes estúdios.
Com seis nomeações para os Oscars (incluindo melhor filme), Precious é um dos grandes fenómenos do ano. E só por manifesto simplismo jornalístico se poderá favorecer a ideia segundo a qual os prémios da Academia vão funcionar como um teste ao impacto comercial das três dimensões (seja o que for que se pense de Avatar). De facto, se continua a existir um espírito genuinamente independente na produção americana, ele está representado em Precious. A visibilidade que o filme adquire nos Oscars, depois de muitas distinções (de festivais, associações de críticos, etc.), significa também que há uma dimensão realista que, embora tendo as suas raízes na tradição independente, permanece viva e viável no imaginário de Hollywood.
Reencontramos, assim, a referência tutelar de John Cassavetes (1929-1989) [foto], uma das personalidades “fundadoras” de uma atitude criativa indissociável da grande metrópole novaiorquina. Mas não se julgue que essa inspiração é apenas estilística e pode ser reduzida a alguns efeitos formalistas. Aquilo que reemerge na realização de Lee Daniels é a função dominante dos actores. As prodigiosas Gabourey Sidibe e Mo’Nique, intérpretes de Precious e Mary (a mãe), são apenas as marcas mais óbvias de uma estética que revaloriza a contemplação das mais discretas ou mais violentas nuances do comportamento humano.
A história de Precious, dos abusos a que é sujeita e da sua resistência à “normalização”, sendo uma contundente crónica social, traduz um relançamento dos modelos clássicos de retrato psicológico. Se nos lembrarmos de filmes como O Estranho Caso de Benjamin Button (2008), poderemos perceber que esse é um factor importante também na produção dos grandes estúdios.