
Com seis nomeações para os Oscars (incluindo melhor filme), Precious é um dos grandes fenómenos do ano. E só por manifesto simplismo jornalístico se poderá favorecer a ideia segundo a qual os prémios da Academia vão funcionar como um teste ao impacto comercial das três dimensões (seja o que for que se pense de Avatar). De facto, se continua a existir um espírito genuinamente independente na produção americana, ele está representado em Precious. A visibilidade que o filme adquire nos Oscars, depois de muitas distinções (de festivais, associações de críticos, etc.), significa também que há uma dimensão realista que, embora tendo as suas raízes na tradição independente, permanece viva e viável no imaginário de Hollywood.

A história de Precious, dos abusos a que é sujeita e da sua resistência à “normalização”, sendo uma contundente crónica social, traduz um relançamento dos modelos clássicos de retrato psicológico. Se nos lembrarmos de filmes como O Estranho Caso de Benjamin Button (2008), poderemos perceber que esse é um factor importante também na produção dos grandes estúdios.