O recente post 'Jornalismo: o mito da neutralidade' suscitou um mail de Paulo Pena (jornalista da Visão), lembrando a necessidade de pensar também a questão da objectividade no trabalho jornalístico — questão delicada e complexa, sem dúvida, que esse trabalho nunca pode descartar. Agradecendo a intervenção, aqui fica o essencial da sua proposta de reflexão:
Não há neutralidade, nem deve haver, quando se trata de informar. Imaginemos um absurdo: sobre o Holocausto, neutral seria aquele jornalista que desse igual destaque à perspectiva «histórica» e à perspectiva «negacionista»? Isso seria absurdo.
No entanto, concordando com a impossibilidade, e com o erro, da neutralidade, não poderei concordar com a aplicação do mesmo argumento à «objectividade». Dito de uma forma simples (cito livremente alguns autores americanos, como Walter Lippman ou Bill Kovach), o jornalista não é, não pode ser, «objectivo», mas o seu método sim. O método da «verificação dos factos» deve ter como finalidade a descoberta da verdade e, para tal, deve integrar uma ideia de «equilíbrio» e de «justiça». Só assim, sem a ilusão da neutralidade, mas com uma salvagurada do seu próprio juízo sobre os factos, se pode conter o preconceito. Basta ler a imprensa, ou ver a TV, hoje, para perceber como a ideia, certa, do «mito da neutralidade», abre caminho a um nihilismo ético, uma espécie de cinismo…, de muitos jornalistas.
Paulo Pena