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Revi há dias Quem Tem Medo de Virginia Woolf? através da magnífica edição em DVD lançada no mercado português. Produzido em 1966, contém uma das mais célebres interpretações do par Elizabeth Taylor/Richard Burton, admiravelmente dirigido por Mike Nichols. Ao adaptar a peça de Edward Albee, Nichols consumava uma “transferência” exemplar: na altura já consagrado encenador da Broadway, estreava-se como realizador de cinema através de um texto que lhe permitia “prolongar” o seu saber teatral, sem deixar de experimentar uma mise en scène que nunca abdicava da sua especificidade cinematográfica.
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Não tenhamos dúvidas que uma das “razões” de fundo que muitos programadores evocariam contra o filme seria o facto de ser rodado a preto e branco (em espantosas imagens que valeram um Oscar ao director de fotografia Haskell Wexler). A esse propósito, importa dizer que o novo-riquismo com que as televisões impuseram a cor (não apenas entre nós, como é óbvio) tem contribuído para manter muitos espectadores numa bizarra ignorância histórica. Porquê? Porque cada espectador que encara a fotografia a preto como coisa “menor”, ou até “caricata”, está a desconhecer uma boa metade de toda a história da arte cinematográfica. Que diríamos se alguém tentasse convencer um leitor de que não vale a pena ler Balzac ou Tolstoi porque, quando eles escreveram, a impressão a laser ainda não tinha sido inventada?
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Alguém, por certo, poderá defender que os diálogos das telenovelas batem aos pontos a escrita de Edward Albee. E isso, confesso, gostava de ver: os paladinos da “cultura popular” televisiva virem explicar-nos que andávamos todos enganados. Entretanto, caro leitor, não se assuste: não vai ligar o seu televisor às nove da noite e dar de caras com o filme de Mike Nichols. O mundo não está assim tão interessante.