ROY LICHTENSTEIN
Templo de Apolo
1964
Templo de Apolo
1964
Somos todos seres morais, refazemos as aparências do mundo numa ordem mais ou menos singular e discutível. Na televisão, muitas vezes, tenta confundir-se moral com evidência — este texto foi publicado no Diário de Notícias (24 de Dezembro), com o título 'Histórias com moral'.
2. O casamento de pessoas do mesmo sexo é uma das nossas questões “fracturantes” (aliás, na televisão tudo é “fracturante”, desde um comício em Alguidares de Baixo até ao Benfica-Porto). É normal que suscite os mais contraditórios pontos de vista. Extraordinário é que haja políticos que abordam a “família” como um dado inerte, congelado numa zona imaculada da história do mundo. Será que não viram James Dean [foto] no filme Fúria de Viver? Será que não sabem que a história da família é também a história das suas permanentes transfigurações? O filme já tem mais de meio século e, pelos vistos, ninguém comprou o DVD. Um dia destes, talvez surja em vez da telenovela, essa grande escola familiar e sexual.
3. As audiências são sustentadas por uma moral hipócrita. Por exemplo: os espectadores “preferem” telenovelas a filmes (mas ninguém fala dos filmes que só passam de madrugada). Ou ainda: os espectadores não estão para “Callas” ou “Sinatras”, querem é música pimba. A mesma, entenda-se, que no domingo [dia 20], à noite, era cantada pelas crianças de Uma Canção para Ti (TVI), enquanto os Ídolos (SIC) se entregavam à promiscuidade de Foo Fighters [foto: Dave Grohl] e outros simpáticos horrores. Pois bem, dizem as audiências que a sessão de Ídolos teve mais dez pontos de “share” que Uma Canção para Ti. Aguarda-se que alguém nos explique a filiação estética dos Foo Fighters na música pimba.